
FRENTE E VERSO
“Tudo começou numa quarta feira. Naquele dia em especial, Toni sentiu uma sensação estranha, como se faltasse algo. Passou o dia inteiro com uma angústia comprimindo seu peito, entretanto, tudo estava aparentemente normal”.
O dia estava lindo... Não havia uma só nuvem no céu e o sol brilhava intensamente, já àquela hora da manhã. Vestiu-se rapidamente e dirigiu-se para a oficina, preparando-se para o atendimento aos clientes.
Logo que chegou na oficina, cumprimentou seus ajudantes e deram início as atividades do dia. Subitamente o telefone tocou: e Iza, sua esposa, atendeu. Era o primeiro cliente do dia. Imediatamente ela desceu as escadarias e passou-lhe o endereço recomendando: - Vá imediatamente atender a este cliente, pois ele está com pressa, pois precisa sair em uma hora. – Toni tomou de suas mãos a ficha de cadastro onde estava escrito o endereço e disse: - Irei imediatamente. - apanhou as chaves do carro, chamou um dos ajudantes e saiu para fazer o atendimento.
Iza era uma mulher perfeita, companheira, inteligente e culta. Ajudava-o na administração da oficina, fazendo todo o trabalho burocrático. Mãe zelosa e perfeita dona de casa, era a parceira ideal. Entretanto, ele sentia que faltava alguma coisa entre o casal, que nem mesmo eu sabia o que seria. E durante o dia aquela sensação aumentou ainda mais.
Procurou manter sua mente ocupada, tentando ignorar aquela angústia, e o dia se passou. Dispensou os ajudantes, fechou a oficina e foi para casa.
Aqueles eram dias difíceis e apesar de ter uma família linda, Toni sentia-se extremamente só. Ele precisava ter alguém com quem conversar. Alguém que pudesse ouvir suas fraquezas sem censurar. Todavia, Iza tinha o hábito de dormir cedo e o fazia rigorosamente todas as noites. E ele... Bem, amargava as longas horas da noite inteiramente só. Aquilo parecia uma triste sina, uma maldição mesmo. Todas as mulheres que fizeram parte da sua vida foram assim. - E o que você fez de concreto para mudar essa situação! - perguntou o Dr. Caruso. - Não faço a menor idéia Doutor. A sensação de solidão é terrível! Na verdade, nós humanos, podemos sentir-nos sós mesmo rodeado por uma multidão, e não é o fato de ter-se uma esposa que modificara esse sentimento. – disse Toni em tom de desabafo - Você ama sua esposa? - perguntou o analista - Sim, eu a amo muito. – respondeu Toni - Na verdade Doutor, eu gostaria de ser um homem rude, sem nenhuma cultura e sem grandes aspirações. Porque quanto mais conhecimento se adquire, maior é a solidão. Porque de que adianta tanto conhecimento se não se tem com quem compartilhar? O conhecimento abre portas de porões escuros e úmidos... - Eu entendo perfeitamente o que você quer dizer. - disse o Doutor. E concluiu: - Você deve tentar envolve-la com assuntos que sejam também do interesse dela, talvez assim, possa surgir um diálogo agradável. – Toni olhou com ar severo para o analista e disse: - E o senhor acha que eu não tentei? É praticamente impossível manter uma conversa com uma pessoa que só dá respostas sucintas. Tipo: “ João perguntou algo a você?” E ela responde: “perguntou!” Mas não diz o que João perguntou. Se eu quiser saber o que João perguntou, tenho que reformular e perguntar novamente: “o que João perguntou a você?” E assim por diante. Isso foi somente um exemplo. As respostas dela são sempre insatisfatórias. - Você deve compreender que nem todas as pessoas têm o dom da narrativa como você. - disse o Doutor Casuso sorrindo. – Toni levantou-se irritado do divã ficando de pé, em frente ao Doutor e disse em tom áspero: - Mas esse comportamento é só comigo. Com as amigas, ela conversa horas.
Doutor Caruso colocou as duas mãos sobre seus ombros e disse: - Provavelmente sejam pessoas com as quais ela tenha mais afinidade. Talvez por este motivo a conversa flua com mais naturalidade. Não se preocupe, encontraremos juntos uma solução! E por falar nisso o seu horário já está estourado. Vá! - e conduziu Toni até a porta.
Naquela noite Toni refletiu profundamente sobre a conversa que tivera com o analista, e decidiu tentar uma conversa informal com Iza.
Por volta das vinte e duas horas, Iza recolheu-se para dormir. Toni deitou-se a seu lado e iniciou uma conversa informal. Iza não prestou atenção a uma só palavra que ele disse. Em vez disso, começou a beijá-lo e a acariciar seu corpo. Logo um clima de sensualidade invadiu seus corpos e começaram a fazer amor.
Enquanto fazia amor com Iza, Toni sentiu um desejo absurdo. Algo inconfessável e procurou afastar aqueles pensamentos, mas, sem sucesso. E quanto mais aqueles pensamentos se firmavam em sua mente, mais excitado ele ficava, até que atingiu um orgasmo intenso. Jamais tivera um orgasmo com aquela intensidade. Entretanto, aqueles pensamentos eram de tal forma mesquinhos e imorais que ele ficou perplexo e envergonhado. Contudo, eu havia gostado, gostado muito. Então procurou desviar seus pensamentos e acabou adormecendo.
No dia seguinte, aqueles pensamentos insanos assolaram sua mente por todo o dia, e por três ou quatro vezes ficou excitado e sentiu vontade de fazer amor com Iza.
Ansiou desesperadamente pelo fim do dia. A única idéia fixa em sua mente era: “fazer amor com Iza”.
A cada momento que se passava, a idéia de ver Iza praticando aqueles atos imorais, assentava-se cada vez mais em sua mente. Lutou desesperadamente contra aqueles pensamentos insanos. Todavia eles atormentavam-no cada vez mais, e com maior freqüência.
Logo que os meninos dormiram, foi para o quarto e acariciou delicadamente o corpo de Iza. Ela já estava dormindo e acordou num sobressalto. E percebendo suas intenções, abraçou-o com ternura e tirou a calcinha. Ele beijou sua boca com volúpia e deslizou para o pescoço. Iza apreciava de modo especial ser beijada no pescoço, e virou-se de bruços levantando os cabelos oferecendo-lhe seu belo pescoço. Toni percorreu sua língua por toda a extensão de suas costas parando na bunda. Beijou, mordeu, e acariciou com a língua aquela bunda exuberante. Subitamente, Iza virou-se de frente, indicando que já estava excitada e Toni introduziu a língua em sua vagina. Percorrendo toda a sua extensão por várias vezes até parar no clitóris, onde se deteve por longo tempo. Subitamente, Iza colocou a mão nos seus cabelos e disse ofegante: - Coloque o dedinho dentro e toque aquele pontinho que só você sabe onde é! – Toni seguiu fielmente suas instruções, introduzindo o dedo médio com a polpa voltada para cima até encontrar uma região mole e rugosa, e fazendo movimentos de vai e vem, em menos de um minuto sentiu fortes contrações da musculatura vaginal e o tremor das pernas de Iza, seguidos de gemidos, que foram aumentando até se transformar em gritos. Logo, tudo ficou quieto e um silêncio invadiu o quarto. Saiu da posição que estava, entre as coxas de Iza e deitou-se a seu lado, assumindo atitude contemplativa. Permaneceu em silêncio por longo tempo, até que Iza recobrasse a consciência. Logo que Iza acordou, pediu-lhe que lhe narrasse sua primeira experiência sexual, como havia perdido a virgindade e as emoções envolvidas. Iza, mais uma vez evasiva, disse: - Ih, pra que você quer saber isso? Quem vive de passado é museu. - E puxou-o para cima de si e disse: - Vamos terminar o serviço, pois preciso dormir. - Aquela resposta caiu como um balde de água fria. Toni levantou-se aborrecido, vestiu sua roupa e foi para a sala assistir TV, pois não havia clima para mais nada. Permaneceu no sofá da sala até o dia amanhecer.
Um dia depois, quando Toni estava no consultório do seu analista, algumas imagens surgiram em sua mente.
Dr. Caruso, percebendo que algo preocupava seu cliente, perguntou: - E o seu relacionamento com sua esposa, teve algum progresso? – Toni olhou fixamente para ele e disse desanimado: - Não doutor, nenhum progresso! Para falar a verdade, ontem a noite foi um verdadeiro fracasso. Aqueles pensamentos obscenos assolaram novamente a minha mente e me deixaram extremamente excitado. E quando tentei falar sobre eles com minha mulher... Bem, o senhor já sabe... - O analista deslizou a mão pelo queixo e disse intrigado: - Você ainda não me falou como são esses pensamentos obscenos que apavoram você. Fale-me a respeito deles! – Toni sentiu seu coração acelerar e um nó na garganta. Sentou-se de maneira mais confortável e disse: - Eu ainda não estou preparado para falar sobre isso com ninguém. - Dr. Caruso apoiou as mãos sobre a mesa e levantou-se num sobressalto dizendo: - Bem, amigo, se você não me contar o que o aflige, como é que poderei ajudá-lo? – Toni parou por um momento e percorreu com os olhos pela sala. Pela primeira vez observou uma grande estante acinzentada na parede da esquerda, repleta de velhos livros empoeirados. À direita, havia um grande relógio, tipo carrilhão, muito antigo. Na verdade toda a mobília era muito antiga exceto o sofá onde estava sentado. Levantou os olhos para observar o velho lustre de cristal e disse: - Em breve o senhor saberá! - O médico olhou para ele com severidade e disse em tom inquisidor: - Por Deus homem... O que será que pode haver de tão sórdido que você não pode me contar? Será uma tendência homossexual, sado-masoquista, instinto assassino ou o que? Na verdade meu caro acho que você precisa mesmo é de um conselheiro matrimonial. Você deve procurar sua esposa e contar-lhe tudo. Talvez compartilhando com ela, surja uma luz. - Talvez o senhor tenha razão! - disse Toni - Todavia, a questão não é essa: o motivo que me trouxe aqui foi outro. Aquela invasão da minha mente por pensamentos obscenos é que é a questão. Entretanto, não estou preparado ainda para expor-me. Tenha paciência doutor. - Ele olhou para Toni com ar compreensivo e disse: - Eu tenho, eu tenho! Na próxima sessão, talvez você se abra comigo. Vá para casa e procure relaxar. – Toni levantou-se lentamente do sofá e despediu-se dizendo: até sábado Dr. Caruso! - e saiu do consultório sem pressa. Caminhou pelas ruas perdido em pensamentos até o estacionamento onde estava o seu carro. Lá, não pode deixar de notar a presença de uma linda mulher: alta, cabelos bem curtos e com um vestido vermelho bastante justo, que delineava suas formas generosas. Ela olhou em sua direção com ar de predadora e fazendo movimentos sensuais, caminhou em sua direção. Obviamente ele percebeu quais eram suas intenções, entretanto, em outra ocasião talvez, ele tentasse uma aproximação, porém agora, ele não tinha cabeça para isso. Entrou em seu carro e dirigiu diretamente para casa.
Naquela noite, finalmente Toni conseguiu dormir umas cinco horas. E logo que amanheceu, levantou-se. Sentia-se bem disposto, parecia um novo homem. Foi para a cozinha e preparou uma garrafa de café e foi para a oficina. Assim que chegou, foi cumprimentado por Milton e Raimundo, que já haviam chegado. Milton esperou um momento em que ficaram sós e começou a fazer queixas sobre o Raimundo. Milton dizia: - Esse cearense é muito mole. Tudo que ele faz é devagar. Eu já não agüento mais! – Toni olhou para Milton com certa indignação e disse: - O Raimundo é uma excelente pessoa, embora um pouco lento, tem um caráter excepcional. Não force a barra, porque se eu tiver que escolher entre ele e você, certamente ficarei com ele. - Milton fez cara de quem não gostou e saiu.
O dia transcorreu tranqüilamente. Consertaram alguns aparelhos de ar condicionado, limparam e pintaram outros. Tudo dentro da normalidade.
Já no final da tarde, Milton pediu a Toni para sair mais cedo e ele concordou sem questionar. Como a maior parte do serviço já estava feito, certamente ele e Raimundo terminariam o restante. E enquanto montavam um aparelho de ar condicionado, Raimundo começou a falar do seu relacionamento com a esposa. Ele dizia: - Eu e a dona Fátima não estamos nos entendendo... Eu quero sexo e ela reclama dizendo: “você só pensa nisso!” E vira para o lado. Eu não agüento isso. Eu quero transar todo dia, mas ela não aceita. – Toni olhou para Raimundo com ar compreensivo e disse: - Compreendo perfeitamente a sua situação, pois comungamos do mesmo problema, meu amigo. Eu mais que ninguém entendo seu problema. Mulher é um bicho complicado! Entender as mulheres é muito difícil: se elas têm pouco sexo, reclamam, se tem muito, reclamam... Eu não sei o que fazer! Talvez, o motivo da reclamação delas seja por estarem fazendo sexo com o cara errado. Provavelmente não reclamassem se estivessem fazendo sexo com um homem a quem amassem. - Raimundo arregalou os olhos e disse: - Você está dizendo que minha mulher não me ama? – Toni respirou fundo e disse: -Provavelmente, e nessa estatística me enquadro eu caro amigo. - e colocou sua mão sobre seu ombro e disse: - Vá para casa, amanhã terminaremos isso.
No dia seguinte, depois de uma noite inteira de reflexão, Toni percebeu que estava perdendo sua mulher. Iza já não era a mesma, não se cuidava, estava muito acima de seu peso e não fazia nada para mudar isso. Vestia roupas compridas e largas para disfarçar a gordura, e dormia, dormia, dormia...
Certa noite, quando faziam amor, em pleno ato, justamente no momento em que ele fazia sexo oral, Iza adormeceu. Ele parou o que estava fazendo e ficou observando atônito enquanto ela dormia. Aquele descaso fez Toni sentir-se tão pequeno, que as lágrimas rolaram. Ele sentiu-se de tal forma humilhado que teve vontade de morrer. Porém, apesar dos seus esforços para manter o controle, explodiu. Ele disse a ela tudo que estava engasgado. Iza tentou defender-se dizendo: - Eu não estava dormindo! Estava apenas curtindo seus carinhos. - A negativa dela irritou-o ainda mais, pois estava subestimando sua inteligência, e disse aos gritos: - Curtindo carinhos, roncando? Já tem mais de meia hora que eu parei de fazer carinhos e estou aqui, igual a um dois de paus olhando para você! - Iza percebendo que não havia justificativa, permaneceu em silêncio.
CAPÍTULO II
São duas horas da manhã, e o sono não chega. Toni está deitado, entretanto alerta, como acabasse de despertar. Sua mente está inquieta, invadida por um turbilhão de pensamentos e imagens. As preocupações do dia-a-dia inquietam sua alma. Estavam atravessando uma crise financeira e ele não via saída.
Respirou profundamente, e fez exercícios para acalmar a mente consciente. Depois de alguns minutos, sentiu uma espécie de dormência percorrer por todo o corpo, seguida de formigamento. Era uma sensação agradável, parecia estar imerso em uma banheira onde a água tinha movimento. Sentiu-se calmo e relaxado. Subitamente, teve a sensação de estar flutuando pelo quarto. Abriu os olhos e constatou assustado, que estava realmente flutuando. Olhou para a cama e viu duas pessoas deitadas: Iza, e havia mais alguém. Aproximou-se para ver quem era e levou um enorme susto: era ele. Sentiu uma profunda angústia. Logo lhe veio à mente a idéia de que havia morrido dormindo e pensou logo em seus filhos. Eles eram tão pequenos, e ele ainda não tivera tempo de garantir o futuro deles. Não, ele não poderia morrer daquele modo, pois ainda tinha tanta coisa a fazer... Subitamente, sentiu uma força puxando-me violentamente para baixo. Lutou contra a força que o arrastava e sufocava, em algo que parecia um lamaçal. Sentiu-se totalmente envolvido por aquela substância pegajosa e... Acordou.
Ele não estava dormindo. Ele vivenciara realmente aquela experiência. Seu corpo estava completamente molhado de suor e respirava com dificuldade. O coração estava com batimentos fortes a acelerados, causando um grande desconforto físico. Procurou controlar a respiração para desacelerar o batimento cardíaco e se acalmar. Aquela experiência fora realmente aterradora.
No dia seguinte, decidiu procurar um amigo que já não via há muito tempo. Ele seguia o budismo e praticava Iogue e outras disciplinas orientais, além de ser um místico.
Logo que acordou, pegou uma velha agenda onde julgava estar anotado o telefone de Carlos. A seguir, ligou imediatamente para ele dizendo que precisava conversar. Carlos mostrou-se bastante receptivo e convidou-o para ir à sua casa a noite. Toni aceitou prontamente o convite e prontificou-se a levar uma garrafa de vinho para relembrarem os velhos tempos. Despediu-se de Carlos e desligou o telefone.
Por volta das dez horas, Iza chamou-o para atender ao telefone, alegando ser um cliente querendo um orçamento. Toni imediatamente interrompeu o trabalho e subiu para atender ao cliente.
Quando entrou na sala, Iza passou às suas mãos o aparelho telefônico, e ele atendeu. O cliente identificou-se como Dr. Magalhães e disse estar necessitando de um projeto de refrigeração em um restaurante no Rio Comprido, com a maior urgência. Imediatamente anotou o endereço e foi para o local. Lá chegando, foi recebido por um homem de uns 35 anos, estatura média e muito bem vestido, com um terno preto. Ele mostrou-se bastante cordial e conduziu-o para o salão do restaurante, mostrando-lhe os locais onde queria a instalação de balcões frigoríficos e uma câmara para gelar os barris de chope.
Logo que tomou conhecimento do que o cliente queria, Toni puxou uma cadeira junto a uma mesa e sentou-se com a prancheta. Fez alguns esboços e cálculos e apresentou-os.
Magalhães analisou demoradamente o orçamento. Andou de um lado para o outro, e depois de alguns minutos disse: - O orçamento está bastante razoável. Entretanto, eu gostaria de reduzir este prazo. Uma semana é muito tempo. Eu preciso inaugurar este restaurante em três dias. Você acha que dá conta? – Toni levantou-se da mesa, apanhou a prancheta das mãos dele, refez alguns cálculos, e disse: - Se eu tiver disponibilidade para trabalhar por tempo integral, sim! - Magalhães abriu um largo sorriso, e pondo o braço em torno do seu ombro, disse: - Então, meu amigo, o serviço é seu! Vai começar agora? – Toni afastou-se um passo e disse: - Você está mesmo com pressa! Eu ainda preciso fazer alguns preparativos. Amanhã começaremos! - Despediu-se com um forte aperto de mão e saiu.
Voltou apressadamente para a oficina para fazer os preparativos e dar a boa notícia a seus ajudantes.
Logo que chegou à oficina, lembrou-se que os havia designado para decorar com iluminação uma grande árvore na casa de Cida, ex-esposa do cantor Djavan. E imediatamente foi ao encontro deles.
Quando chegou ao local, constatou que os dois, Milton e Raimundo, estavam trepados na árvore arrumando as lâmpadas. E sem rodeios, Toni disse: - Acabo de dar um orçamento no Rio Comprido e foi aceito. É um excelente orçamento, todavia temos que trabalhar sábado domingo e estou disposto e pagar uma diária de cem Reais. Posso contar com vocês? - Raimundo sem cerimônia perguntou: - Vai pagar no domingo? – Toni olhou para ele e disse: - Claro que não! O pagamento será feito na terça feira, quando terminarmos o serviço. - Raimundo ajeitou-se na escada e disse em tom de deboche: - “Intão eu num vô!” - Obviamente, Raimundo sabia ser imprescindível a sua presença. Ou pelo menos assim pensava ele. Pensava, porque antes que ele pudesse dizer algo, Toni disse: - Desça! Pode descer. Você para agora. Vá para casa e passe na oficina na segunda feira para receber suas contas. - Raimundo estava com a expressão de quem não estava entendendo nada. Na verdade, ele jamais esperaria que Toni tomasse aquela atitude, e antes que ele pudesse dizer algo, Toni virou as costas e saiu indignado.
Quando chegou na oficina, já havia anoitecido. Fez os últimos preparativos para o dia seguinte e foi para casa tomar um banho e vestir-se confortavelmente para ir à casa de Carlos.
Quando Iza viu-o se vestindo, perguntou: - Vai sair? - enquanto abotoava a camisa Toni disse: - Sim, vou à casa de um velho amigo! - beijou-a e saiu, sem maiores explicações.
Cerca de uma hora mais tarde ele chegava à casa de Carlos, que morava no bairro da Tijuca.
Logo que chegou à portaria do prédio, verificou que Carlos estava na varanda, e acenou cordialmente.
Carlos morava em um prédio antigo na Rua Conde de Bonfim, e após subir três lances de escada, Toni estava na porta do apartamento, que já estava aberta. Entrou sem cerimônia, e deu um forte abraço em Carlos, que retribuiu ternamente e convidou-o para sentar em um confortável sofá. E perguntou sem rodeios: - O que o aflige meu amigo? – Toni respirou profundamente e disse: - Bem, Carlos, ontem à noite passei por uma experiência aterradora. Deitei-me por volta de uma da manhã, contudo, estava sem sono. Fiz alguns exercícios de relaxamento e quando dei por mim, estava flutuando pelo quarto. Tive a impressão de ter morrido ao ver meu corpo deitado na cama. Aquela cena me deixou de tal forma apavorado que quase entrei em choque. A seguir, senti uma força extraordinária arrastando-me para baixo, para dentro de algo que parecia um lamaçal. Era uma substância nojenta e pegajosa que envolvia todo o meu corpo e me sufocava. Eu não estava tendo um pesadelo, pois raramente sonho e quando voltei a mim, meu corpo estava todo suado, embora o ar condicionado estivesse ligado na potência máxima. - Carlos deu uma gargalhada espontânea e disse: - Não há nada para se preocupar. O que aconteceu com você foi apenas uma projeção astral. Um fenômeno bem conhecido por nós iogues. – Toni franziu as sobrancelhas e disse em tom inquisidor: - Projeção astral! Que diabos é isso? - Carlos colocou a mão sobre seu joelho e sorrindo disse: - Projeção astral é algo maravilhoso, que quando bem controlado pode fazer verdadeiros prodígios. Todos nós fazemos projeção astral de maneira inconsciente. O espírito é uma energia e não precisa de descanso, ao contrário do corpo. Quando dormimos, apenas o corpo dorme. O espírito encontra-se em liberdade e afasta-se. Esse fenômeno acontece conosco todas as noites de nossa vida, sem que nos demos conta disso. Todavia, quando provocamos esse fenômeno antes de dormir, ou seja: consciente, podemos ter pleno controle do espírito e guardar todas as lembranças da viagem. Para que você possa entender melhor, digamos que você em vez de viajar como passageiro a bordo de um boing, e faça o trajeto dormindo, você pilote o avião e desfrute de todas as emoções maravilhosas da viajem. A viagem é a mesma para piloto e passageiros? Claro que não! A única diferença é que para ser piloto, precisa-se treino. Dá para entender? Se você treinar projeção astral, poderá ter experiências maravilhosas. É só uma questão de treino. Eu procuro tirar proveito das situações mais inusitadas. Por exemplo: quando sou acometido de insônia, aproveito para praticar projeção astral. Porque uma condição essencial para bom êxito é estar alerta. Quando se pretende realizar uma projeção astral, nunca deve fazê-lo com sono, senão, acaba-se adormecendo durante o processo. Aqui tem um livro que trata seriamente do assunto e sugere alguns exercícios, que se seguidos corretamente dão ótimos resultados.
Toni fiou extasiado com a aula que recebera de Carlos, mas, uma pergunta se fazia presente em sua mente e para que não saísse dali com nenhuma dúvida, perguntou: - Você é capaz de fazer essa tal projeção? - Carlos olhou para ele com ar compreensivo e disse: - Sob certas condições, sim! Veja meu amigo, para realizar uma viagem astral, é necessário estar em um estado de relaxamento, em ambiente tranqüilo e isolado. Leia atentamente este livro, procurando aprender o máximo que puder e pôr em prática os exercícios sugeridos. Siga rigorosamente as instruções e verá que não há nada a temer. Se você tiver qualquer dúvida, telefone-me, ’ que eu esclarecerei. Agora, vamos deixar de lado esse papo de projeção astral e diga-me: como vai a família?
Toni estava de tal forma intrigado com tudo aquilo que nem prestou atenção na pergunta de Carlos. Que percebendo, tocou seu braço dizendo: - Ei, estou falando com você! – Toni voltou subitamente à realidade e disse um tanto assustado: - Desculpe, Carlos! O que foi que você perguntou mesmo? - Carlos balançou a cabeça em desaprovação e sorrindo disse: - Eu perguntei como vai sua família. Você tem uma, não? - Sim, claro! - disse ele. - Tenho esposa e dois filhos de três e seis anos. E você? - Carlos mudou o semblante. Toni notou uma certa angústia em seu olhar. Carlos demonstrava claramente sua frustração. Levantou-se da cadeira, deu uma volta pela sala com passos largos, coçou o queixo e disse: - Eu sou um eterno solitário... Não consigo prender-me a ninguém, e alem do mais, nenhuma mulher sensata se prenderia a mim. Eu tive alguns grandes amores. Entretanto, nenhum duradouro. A vida tem sido injusta comigo. Acho que esse meu jeitão despojado assusta as mulheres e o meu estilo de vida tem um preço. O conhecimento traz um legado maldito meu amigo. Pense nisso! - Aquela frase ecoou nos ouvidos de Toni e por um momento, pode sentir uma certa familiaridade correlata. Era exatamente assim que se sentia. Em certos momentos, sentia-se como sendo o único habitante do planeta; tamanha era a sua solidão.
Carlos saiu em silêncio da sala em direção a cozinha. Toni permaneceu sentado por momentos. A seguir, ouviu barulho de talheres na cozinha e foi atras de Carlos. Caminhou de vagar através da sala e tropeçou em uma banqueta adjacente a uma mesinha. Ao ouvir barulho na sala, Carlos perguntou de dentro da cozinha: - Está tudo bem? – Toni respondeu prontamente: - Certamente, Carlos! - e Carlos respondeu da cozinha: - Estou preparando um café. Venha até aqui!
Toni caminhou em direção a cozinha e ao deparar com Carlos, disse: - A sua casa é uma verdadeira bagunça, caro amigo! - Carlos sorriu meio desconsertado e disse: - Eu moro aqui sozinho. Na verdade, o que você chama de bagunça, é apenas uma maneira diferente de arrumar as coisas. – Toni olhou para ele tentando conter uma gargalhada, mas, não agüentou. Riram juntos por alguns momentos até que Toni falou: - Nunca vi desculpa mais esfarrapada! Nesse momento, Carlos acabava de preparar o café. Passou o braço sobre o seu ombro e conduziu-o até a sala, onde se sentaram para saborear o café.
Permaneceram ali sentados por longo tempo, relembrando momentos do passado. Até que Toni se deu conta da hora e decidiu despedir-se de Carlos. Levantou-se cautelosamente, colocou a xícara sobre a mesinha de centro, abraçou fortemente o velho amigo e despediu-se, fazendo-o comprometer-se a retribuir a visita.
Logo que Toni entrou no seu carro, sentiu um grande alívio. E pensou: “o tom de voz claro e pausado de Carlos, acalmava-me o espírito. Achei as explicações dele bastante convincentes e coerentes e estou decidido a pôr em prática seus ensinamentos”.
Ao chegar em casa, foi recebido na porta por sua esposa, que o beijou com ternura e disse: - O Antônio tem gravação amanhã às seis da manhã! – Toni olhou para ela surpreso e perguntou: - Mas porque tão cedo? - ela respondeu: - A figuração precisa chegar cedo para experimentar a roupa... São muitos os figurantes. - Está bem! - disse Toni - Todo dinheiro é bem vindo. E além do mais, quem sabe não começa aí a carreira de ator dele? - Iza olhou para ele com ar compenetrado e disse: - É por isso que faço esse sacrifício. Nem é tanto pelo dinheiro! – Toni abraçou-a fortemente e disse: - Preciso tomar um banho. Carlos emprestou-me um livro e gostaria de começar a lê-lo imediatamente.
Iza permaneceu em silêncio, enquanto ele ia para o banheiro tomar banho.
Lá pelas vinte e três horas, enquanto Iza tomava um banho, Toni deitou-se em sua cama e começou a ler o livro. Quando estava na metade do primeiro capítulo, Iza saiu do banheiro inteiramente nua. Toni olhou para ela e notou que havia depilado completamente a região pubiana. Aquela visão deixou-o completamente excitado. Claro que a intenção de Iza era aquela, pois desfilou sensualmente pelo quarto, fazendo movimentos estudados e provocativos. Toni colocou o livro de lado, levantou-se lentamente da cama, abraçou-a e deitaram juntos num clima de sensualidade. Toni começou a beijar seu corpo perfumado a partir da nuca. Foi deslizando vagarosamente para os seios, lambendo e mordendo-os por alguns minutos. Depois percorreu com minha língua seu abdome e deslizou até os pés. Teve o cuidado de chupar cada um dos seus dedinhos. O que arrancava de Iza, gemidos de cócegas e prazer. A seguir, fez o caminho inverso, parando em sua vagina depilada e cheirosa. Ali, deteve-se por longo tempo, beijando e acariciando. Iza fazia movimentos alternados: fechava, contraía e afastava as coxas, como se estivesse tentando retardar um orgasmo iminente. Até que a certa altura, Iza ofegante, disse: - Amor... Eu não agüento mais; vou gozar pra você! - E explodiu em violento orgasmo, seguido de gemidos e gritinhos. Quando Toni percebeu que havia terminado, deitou-se a seu lado e esperou por alguns minutos para que ela pudesse recuperar-se. A seguir, colocou-se sobre ela e a penetrou violentamente. O que foi bastante fácil, considerando-se que a lubrificação era perfeita e abundante. Iza abriu vigorosamente suas pernas com o auxílio das mãos e disse: - Faça com bastante força, pois eu quero gozar novamente. – Toni seguiu fielmente suas instruções e fez movimentos fortes de penetração. Seus corpos chocavam-se com tal violência que fazia barulho, semelhante ao bater de palmas. E logo Iza atingiu um novo orgasmo.
Tudo parecia perfeito, entretanto faltava algo. Ele sentia-se diferente em relação a Iza. Apesar do clima estar perfeito e dos meus esforços para atingir um orgasmo, não conseguiu. Havia o prazer emocional, mas, aquela sensação física, inexistia. Deitou-se ao lado de Iza por alguns momentos para recobrar as energias enquanto refletia sobre o assunto, enquanto Iza permanecia imóvel e em silêncio.
Enquanto meditava, pensamentos eróticos e obscenos surgiram em sua mente, deixando-o extremamente excitado. Tentou afastá-los por alguns momentos, mas, sem sucesso. Então, resolveu fazer amor novamente com Iza, e colocando-me sobre ela, fez a penetração costumeira e iniciou movimentos lentos e compassados. Decidiu não resistir a aqueles pensamentos obscenos e deixou-se levar pelo erotismo. E em menos de cinco minutos, atingiu um orgasmo formidável, de grande intensidade e duração. Foi um gesto solitário, entretanto, gratificante e prazeroso.
Terminado o ato, Toni abraçou Iza com ternura até que ela adormecesse. O que aconteceu em poucos minutos. A seguir, deitou-se de costas e começou a pensar no que havia acabado de acontecer. Sentiu-se um ser abominável e culpado. Ele, enquanto fazia amor com Iza, realmente desejou que aqueles pensamentos obscenos que vinham a sua mente se tornasse realidade. Porém, agora, abominava aqueles pensamentos. Era um duelo feroz entre a emoção e a razão. Entretanto Toni reconheceu que, jamais tivera tanto prazer em uma relação sexual como o que acabara de ter momentos antes.
Ele sentia um desejo enorme de conversar com Iza a respeito do assunto, mas temia a reação dela. Na verdade, sentia vergonha daqueles pensamentos, que se tornavam cada vez mais freqüentes em sua mente. Porém, intimamente ele sabia que cedo ou tarde, teria que compartilhar seus anseios com Iza. Porém, ainda não era hora.
Toni manteve-se alerta por alguns minutos, porém foi vencido pelo cansaço e adormeceu profundamente.
Por volta das seis horas da manhã, Toni foi acordado por Iza, que dizia: - Você deve se apressar, pois terá um dia cheio! Não é hoje que você vai começar a instalação na Choperia Brasil?
Toni esfregou os olhos, e ainda sonolento, disse: - Sim, sim, você tem razão! - E levantou-se apressadamente para vestir-se.
Quando terminou de se vestir, Iza já havia preparado o café. Tomou uma xícara apressadamente e foi para a oficina, aguardar a chegada dos ajudantes.
CAPÍTULO III
A noite estava calma e quente. Iza e Lia, conversavam descontraída sala. Toni havia saído para a varanda para tomar ou pouco de ar. Subitamente, o tom de voz da conversa das duas ficou mais baixo. Aquilo aguçou sua curiosidade e aproximou-se mais da janela para poder ouvir a conversa, quando ouviu Iza dizer: - Toda mulher tem desejos guardados no armário Lia. Nós somos educadas num regime opressor, onde não podemos expressar nossos desejos. Na verdade, nos é vetado até mesmo ter desejos. E se os temos, devemos guardá-los bem fundo no armário. Isso é uma hipocrisia! O ser humano é curioso por natureza, e o fato de se estar casada com uma pessoa e amá-la muito, não nos impede de ter desejo de fazer sexo com outra pessoa. Como saber se o que temos é realmente o melhor, se não pela comparação? - Aquela conversa fez surgir em Toni um desejo quase que incontrolável de participar. Entretanto conteve seu impulso e aproximou-se ainda mais da janela para ouvir melhor. E Iza prosseguiu: - Eu confesso que às vezes, sinto uma espécie de curiosidade de saber, experimentar mesmo, fazer tranzar com um homem negro. Mas, procuro manter esse desejo adormecido, em respeito ao meu marido. Entretanto, freqüentemente, sinto vontade de falar abertamente com ele a respeito. – Toni sentiu seu coração acelerar e suas axilas transpirarem abundantemente. E quando percebeu, seu pênis estava dando sinais de ereção. Quando Lia finalmente falou: - Iza... É muito bom! Eu tranzei uma vez com um “negão” que me deixou maluca. O pênis dele era enorme. Eu quase não agüentei o negócio do cara. Mas, gozei muito!
Naquele momento, Iza interrompeu Lia e disse: - Eu me sinto plenamente realizada sexualmente com meu marido: ele é bem dotado, carinhoso e me faz gozar muito. Mas, sinto uma enorme curiosidade de fazer sexo com um negro. É apenas curiosidade, para saber como é! - Lia perguntou: - Você teria mesmo coragem de fazer isso? - Iza respondeu: - Sim! Mas teria que ser com o consentimento do meu marido. - Lia deu uma gargalhada e disse em tom irônico: - Sabe quando isso vai acontecer? Nunca! Seu marido jamais permitiria uma coisa assim. - Iza retrucou dizendo: - Sabe que você pode estar errada? Meu marido tem uma mente aberta. E se eu tiver coragem de tocar no assunto com ele, é muito provável que concorde. - E Lia maliciosa, perguntou: - E você já tem algum candidato em mente? - Iza sorriu com malícia e disse em tom de quem tem o controle da situação: - Sim, sim! Existem dois possíveis candidatos.
Naquele momento Toni ouviu o arrastar de cadeiras, indicando que elas se levantavam. Afastou-se apressadamente da janela e acendeu um cigarro, permanecendo indiferente.
Iza e Lia, saíram para a varanda e aproximaram-se de uma mesa branca redonda. Puxaram as cadeiras também brancas e sentaram-se no outro extremo da varanda. Era uma noite calma, e uma brisa fresca batendo em seus corpos, dava uma agradável sensação revigorante. Toni permaneceu em silêncio, demonstrando indiferença. Entretanto, estava emocionalmente abalado. Sentia um grande desconforto físico, que acelerava seu coração e dificultava a respiração. Ele sentia uma espécie de excitação e ciúme. Uma onda de calor percorreu por todo o seu corpo, fazendo-o transpirar com abundância e suas mãos tinham leves tremores. Enquanto isso, as duas conversavam animadamente, indiferentes à sua presença.
Passados uns quinze minutos, o desconforto desapareceu, e Toni pode refletir com clareza sobre a conversa que acabara de ouvir. E chegou a conclusão de que, mesmo sem querer, Iza havia aberto uma porta para uma abordagem sua. Faltava-lhe apenas criar coragem para fazê-lo.
Toni permaneceu hesitante por momentos, até que decidiu juntar-se às duas. Aproximou-se lentamente da mesa e sem cerimônia puxou uma cadeira dizendo: - Posso juntar-me a vocês? - Iza olhou para ele com ar malicioso e disse sorrindo: - Isso aqui é papo de mulher! – Toni sentiu-se constrangido por ter feito papel de tolo, entretanto, usou o bom humor e disse irônico: - Discriminação é crime previsto por lei! - Lia olhou para ele sorrindo e disse: - Junte-se a nós e participe, isto é: se não ficar muito escandalizado. Você sabe que papo de mulher é fofoca ou sacanagem. – Toni deu um sorriso de satisfação e disse: - Ta ai um assunto que me interessa! - Lia sorriu maliciosamente, pôs sua mão sobre seu braço e disse: - Eu estava contando para Iza alguns segmentos da minha vida. O meu marido me trai com as mulheres mais baixas que se pode imaginar, e não tem nem o cuidado de esconder direito. Por outro lado, eu dou meus pulinhos para não ficar com fome. – Toni interrompeu Lia dizendo: - Entendo o que você quer dizer! Eu tenho crenças próprias a respeito de sexo: eu acredito que sexo e amor são coisas distintas, e que se pode ter uma relação sexual bastante gratificante sem amor. Eu mesmo já vivenciei experiências nos dois sentidos: no meu primeiro casamento, embora eu amasse muito minha esposa, não conseguia sentir prazer sexual. Aquilo era bastante frustrante. Eu fazia amor com ela à noite inteira e só muito raramente conseguia um orgasmo. Até que experimentei fazer sexo com uma mulher quarenta anos mais velha, e que me realizou plenamente. Eu não podia entender como aquilo acontecia. Eu tinha uma esposa linda, meiga e carinhosa, que eu amava, mas que não me dava prazer. Por outro lado, tinha uma amante velha e feia, mas que me realizava sexualmente. Era uma incoerência, mas, um fato. Na verdade, eu em toda a minha vida, sempre me realizei melhor sexualmente, com mulheres pelas quais eu não tinha nenhum vínculo afetivo, do que com as que amei. Com exceção de uma, é claro!
Iza ouvia a tudo em silêncio, parecendo reprovar tudo o que ouvia. Lia demonstrava satisfação, pois as palavras de Toni endossavam seu comportamento leviano. Subitamente, Iza interrompeu Toni dizendo: - Você pensa mesmo assim? – Toni voltou-se para ela e disse: - Sim! Preste atenção no que vou dizer: e abra sua mente para as possibilidades. Qual é o único bem de que realmente dispomos? Nossos corpos, certo? Todo o mais nos pode ser tirado, porém o nosso corpo não. Então porque permitir que alguém tenha controle sobre ele, decidindo o que se pode ou não pode fazer com ele? Essas convenções moralistas proíbem, desde a infância, o uso do nosso sexo, tentando inculcar em nossas mentes a imagem de que sexo é sujo, imoral e proibido. Entretanto, sabemos que não é nada disso. Então, porque devemos fazer sexo somente com uma pessoa, se na verdade, sentimos o desejo de fazer com outras? Os homens são mais honestos nesse assunto. Se se perguntar a uma mulher casada se sente desejo de fazer amor com outro homem, ouve-se logo um discurso elaborado de que jamais sentiu tal desejo. Entretanto, ela mesma sabe que isso não é verdade. Ela pode mentir para o mundo, porém não para si mesma. Essa história de princípios morais é um absurdo. Veja bem: eu não quero pregar a promiscuidade. Só quero que as pessoas compreendam que tem o direito de disporem de seus corpos da maneira que lhes aprouver. Entende o que quero dizer? - Iza encarou-o com frieza no olhar e disse em tom inquisidor: - Então, se eu sentir e desejo de transar com outro homem, tudo bem? - Sim! - disse ele - O corpo é seu, e só você tem o direito de decidir a melhor maneira de usá-lo. Eu não sou tão pretensioso em julgar-me o melhor homem do mundo. Certamente existem melhores que eu. Entretanto, não tenho nenhum receio em externar meus desejos. Agora, diga-me: Você seria capaz de jurar que jamais desejou tranzar com outro homem, por puro prazer, mesmo que fosse apenas por curiosidade? - Iza deteve-se por um momento, permanecendo em silêncio. Voltou os olhos para cima, como se buscasse uma resposta adequada, e disse: - Você é o homem da minha vida. Eu o amo muito... - e interrompeu a frase. - Mas... - disse Toni - Sim! - Iza respondeu - Somente por curiosidade! – Concluiu ela.
Toni olhou em seus olhos fixamente, tentando buscar uma verdade em sua alma e disse: -Prossiga! - Iza ficou nitidamente perturbada. Toni a estava instigando a revelar seus mais íntimos segredos. Ela havia ido longe demais e tinha consciência disso, e agora era tarde para recuar.
Ele percebeu que Iza buscava uma saída que não a comprometesse. Entretanto, ela respirou profundamente e disse: - Claro que existem homens que me excitam. Homens como Antônio Fagundes, por exemplo. - Ele interrompeu Iza bruscamente dizendo: - Estamos falando de gente de verdade, não de ídolos. Pessoas comuns, como nós. - Iza sorriu maliciosamente e disse: - Prefiro não dizer! Esse assunto esta ficando picante demais. Acho melhor mudarmos de assunto. Vou à cozinha preparar um café fresquinho. - Lia levantou-se e disse: - Espere, vou com você! - As duas sentiram-se acuadas e procuraram uma saída pela tangente, e Toni ficou sozinho na varanda, enquanto as duas preparavam o café.
Passados uns quinze minutos, as duas retornaram trazendo a bandeja de café.
Iza serviu uma xícara de café ao marido, e aproximou-se novamente de Lia, e as duas iniciaram, uma animada conversa.
Toni permaneceu calado, demonstrando indiferença, até que decidiu sair e dar umas voltas.
Quando retornou, Lia já havia saído. Era tarde e Iza já havia se deitado. Caminhou silenciosamente até o quarto e aproximou-se de Iza. Porém, esbarrou desastradamente na cama, fazendo-a acordar. Iza abriu os olhos sonolentos e perguntou: - Que horas são? – Consultou ele o relógio e disse: - Já passa da meia noite! - Iza esfregou os olhos e perguntou em tom inquisidor: - Onde você esteve até essa hora? – Toni olhou para ela aborrecido e disse: - Por aí! - Sem dar maiores explicações.
Iza virou-se de lado, ajeitou o travesseiro e novamente voltou a dormir. Ele queria muito conversar com ela, mas, o bom senso falou mais alto e saiu do quarto, deixando-a dormir.
A noite foi longa, pois não conseguiu afastar da mente as palavras de Iza, enquanto conversava com sua amiga Lia.
Ele sentia que estava perdendo sua esposa. Pois já não conversavam mais, a menos que tivessem a presença de uma outra pessoa.
Ele já estava no limite das suas forças. Já não agüentava mais aquele descaso de Iza. E embora não quisesse isso, não via alternativa a não ser a separação.
O dia amanheceu e Toni procurou não pensar no assunto, mantendo sua mente ocupada o maior tempo possível.
Quando chegou em casa à noite, estava decidido a separar-se de Iza. Todavia, precisava conversar com ela a respeito. Ele precisava dar uma chance aos dois. Esperou que os meninos dormissem e chamou Iza para uma conversa séria.
Iza olhou para ele e com ar de deboche disse: - Não estou gostando nada desse seu tom de voz. O que você tem a me dizer? – Toni refletiu por um momento objetivando medir as palavras e falou com firmeza: - Você já me levou ao limite da paciência. Esse seu descaso está me levando a loucura. Eu já não agüento mais olhar para você e vê-la dormindo. Eu quero uma esposa, que seja companheira, amiga, conselheira e cúmplice. Não um zumbi, que dorme o tempo todo. Eu me encontro num completo estado de insatisfação. Nem orgasmo eu tenho mais com você. Por total falta de colaboração e interesse seu. Para viver desse jeito, prefiro ficar só, até encontrar alguém que me compreenda.
Naquele momento, Antônio, o filho mais velho do casal, entra no quarto e pergunta: - Vocês estão brigando? – Toni olhou para ele com ternura, o abraçou e disse: - Não, filho! Papai e mamãe estão apenas conversando. - E o carregou de volta para seu quarto, onde permaneceu até que adormecesse. Então, retornou a seu quarto e encontrou Iza dormindo. Toni ficou profundamente irritado. Acordou Iza com um safanão e disse gritando: - Você não tem mesmo jeito! - Iza levantou-se e sentou-se na cama dizendo: - Eu não tenho culpa se você não sente sono. Estou cansada e quero dormir!
Toni respirou profundamente procurando encontrar um ponto de equilíbrio e disse com voz pausada: - Mas você dorme demais! Eu não estou pedindo nenhum absurdo. Não quero que você permaneça a noite inteira acordada. Eu só quero alguns momentos a sós com você... O nosso momento. Mas, se você não quer, não há nenhum motivo para continuarmos juntos.
As palavras de Toni ecoaram fundo nos ouvidos de Iza. Que se sentindo ameaçada, resolveu tentar uma reconciliação e disse: - Eu amo você e aos nossos filhos. Eu não quero me separar de você. Você é o homem que escolhi para viver comigo pro resto da vida... - Ele a interrompeu e dizendo: - Mas desse jeito? Eu não quero mais ser tratado como um ninguém. Você me trata como se não existisse. Isso está me fazendo muito mal. Você sabe que não tenho amigos com quem desabafar. E mesmo que tivesse, não o faria. Você me levou a freqüentar análise... Sou um homem perfeitamente normal, que você está contaminando com sua doença. Não é esse tipo de vida que quero para mim. Mas, estou disposto a tentar novamente, desde que você mude. Senão, acabamos aqui! - Iza começou a chorar, pois sabia que ele falava sério. Então disse: - Eu vou mudar! A partir de agora você conhecera uma nova mulher. - Estendeu-lhe a mão e abraçou-o com ternura. Enxugou suas lágrimas e se beijaram. E logo, estavam fazendo amor.
O relacionamento do casal permaneceu dentro de limites aceitáveis por algum tempo. Até que novamente àqueles pensamentos invadissem novamente a mente de Toni. Ele queria salvar o seu casamento, e julgou necessário uma mudança radical.
Certo dia, enquanto fazia amor com Iza, finalmente criou coragem e se abriu com ela. Considerando a conversa que havia ouvido entre ela e Lia. Aproveitando um momento de euforia entre o casal, ele disse: - Já faz muito tempo que venho sentindo um desejo enorme de vê-la tranzando com outro homem... - Iza parou bruscamente e indignada disse: - Isso só pode ser brincadeira! Você acha que eu me submeteria a isso? Você só pode estar maluco! – então Toni olhou seriamente para Iza, e engoliu as palavras. Aquela afirmação era de tal forma hipócrita, que ele não queria nem comentar. Iza não fazia a menor idéia de que ele havia ouvido sua conversa com Lia. Portanto, aquela atitude indignada era completamente antagônica com o que dissera a Lia. Ele sabia que seus desejos conflitavam com as palavras. Ele sabia que Iza estava mentindo descaradamente. O que lhe causou imenso sentimento de revolta. E decidiu não levar avante aquele assunto, para não aumentar ainda mais o clima de hostilidade. “Quem sabe talvez, em outra ocasião” pensou ele.
O tesão acabou naquele momento. Não havia mais clima para continuar. Toni levantou-se aborrecido e foi tomar um banho.
Quando voltou, Iza havia adormecido nua. Toni sentiu o solo abrir-se sob os seus pés. Teve vontade de desaparecer para o Kurbukstão, mas, não o fez. E passou a noite em claro.
Somente no dia seguinte, Toni pode compreender que aqueles desejos, nada mais eram que muletas, para tentar manter o seu casamento de pé.
Chegou à conclusão de que quando duas pessoas já não se bastam, é sinal de que o casamento já acabou. Entretanto, ele amava Iza, e não queria separar-se dela. De certa forma, sentia-se culpado pelo curso que a relação tomou. E achava que deveria fazer algo para salvá-la.
Iza não sabia que ele tinha conhecimento de um desejo secreto seu. Julgou de forma vã que, se contribuísse no sentido de que ela realizasse de alguma forma o seu desejo, o relacionamento pudesse melhorar. Mas, como iniciar um assunto tão delicado? Ele não sabia. Precisava ser cauteloso para não causar a impressão errada.
Começou a ensaiar algumas falas, mas, nenhuma o satisfazia e voltava sempre à estaca zero. O dia amanheceu e não conseguiu formular em sua mente um diálogo plausível.
Levantou-se sonolento e deu inicio às atividades do dia. Enquanto Iza ainda dormia.
Passou o dia inteiro sentindo-se o último dos homens. Tamanha era sua frustração.
Por volta das dezenove horas, fechou a oficina e subiu para tomar um banho. E logo que saiu do banheiro, Iza perguntou: - Pretende sair? - Sim! - respondeu - Tenho consulta marcada com o Dr. Caruso. - Iza olhou para ele com ar de curiosidade e exclamou em tom de deboche: - O que você conversa tanto com esse médico? – Toni olhou para Iza com ar compreensivo e disse: - Estou com problemas de ordem emocional... - E novamente Iza com ar de deboche perguntou: - Volta hoje?
Toni olhou para ela com indignação e saiu sem responder.
Cerca de uma hora mais tarde, chegou ao consultório do Dr. Caruso.
Logo que chegou, foi recebido com a cordialidade de sempre. Dr. Caruso era um velho amigo, colocou a mão sobre o seu ombro e conduziram-no para o interior da sala, fazendo-lhe perguntas genéricas e acomodando-o num confortável sofá.
Toni acomodou-se e ficou por momentos em silêncio. Dr. Caruso sentou-se a sua frente e perguntou: - Sente-se à vontade? - Sim! – respondeu Toni.
Dr. Caruso fez movimentos com as mãos sinalizando que ele deveria continuar.
Toni olhou para ele, respirou profundamente e disse: - Bem, Doutor... Há um fato novo que gostaria de comentar... - e ele novamente gesticulando, indicou que Toni deveria prosseguir. Toni ajeitou-se no sofá e disse: - Bem doutor... Há um fato novo: eu acidentalmente ouvi uma conversa de Iza com uma amiga... Foi uma conversa bastante reveladora e assustadora também, mas confesso que mexeu muito comigo... – o doutor Caruso coçou o queixo e disse em tom solene: - Prossiga! – então, Toni disse nervoso: - Eu não me sinto à vontade para falar do assunto, mas, vou tentar... Bem, eu estava sentado em minha cadeira preferida na varanda, meditando sobre os problemas do dia a dia e fumando um cigarro, enquanto Lia e Iza conversavam na cozinha... Vi-me tomado de uma curiosidade imperiosa em saber sobre o que as duas conversavam e aproximei minha cadeira de uma janela adjacente... Iza dizia que tinha a fantasia sexual de tranzar com um negro, apenas por curiosidade e Lia a incentivava dizendo que já tivera tal experiência e que tinha sido muito bom.
Doutor Caruso levantou-se, deu meia volta na sala e disse intrigado: - Sim, mas, eu não entendi onde você quer chegar... – Toni olhou para ele e disse: - Eu explico... O problema é que o normal seria que eu ficasse enciumado, mas, ao contrário, fiquei muito excitado com aquela revelação!
- Doutor Caruso levantou-se novamente, apanhou um bloco de anotações e escreveu algo que não ele pode ver o que era. O silêncio dele começava a incomodar Toni. Então ele perguntou: - E ai doutor, não tem nada para me dizer? – O analista colocou o bloco sobre a mesa e sentou-se sobre ela dizendo: - Agora tudo começa a fazer sentido... Aqueles pensamentos obscenos de que você falava tem a ver com essa conversa que você ouviu?...”“.
“- Sim! – respondeu Toni - As minhas emoções estão conflitando dentro de mim... acho que perdi a noção do certo e do errado... existe uma força impulsionando-me para uma zona desconhecida... algo que se assemelha à aberração... eu tenho consciência do que é moral e normal, entretanto, sinto o desejo de fazer o que é imoral... sinto um fascínio pelo pecado, pelo proibido... o senhor me entende, doutor? – o médico limitou-se a um movimento de cabeça -Parece algo demoníaco. Estou travando uma batalha entre o certo e o errado, entre o bem e o mal e sinto que o lado obscuro está vencendo. Sinto que o mal esta a cada dia mais forte. Eu já vi e vivi fatos de tal forma nefastos que sinto um desejo incontrolável de fazer justiça com as próprias mãos... fico horas planejando modos de eliminar pessoas do mal, desonestas e nefandas... é como se passasse um filme diante dos meus olhos. Talvez, diante da impotência de tais fatos, eu me volte para dentro de mim mesmo... em uma forma de auto”.-punição... – o doutor Caruso bateu forte a mão sobre os joelhos e disse: - Se você está fazendo esta análise de si mesmo, eu não sei qual é o meu papel nessa história. – Toni levantou-se do sofá e dirigindo-se ao Doutor, disse: - Doutor, posso lhe fazer uma pergunta pessoal? - doutor Caruso acenou com a cabeça positivamente. – então Toni prosseguiu - O senhor acredita em obsessão de espíritos demoníacos? - doutor Caruso sorriu maliciosamente e respondeu com outra pergunta: - Você está perguntando para o homem ou para o médico? – Toni disse que para os dois. Então ele respondeu: - O homem diz que acredita... O médico diz que não! - E deu uma vigorosa gargalhada apontando para o relógio e dizendo: - Seu horário já terminou faz quinze minutos... Vá para casa descansar enquanto penso no assunto.
Toni saiu do consultório do Dr. Caruso e foi para casa. Enquanto dirigia, começou a refletir sobre as conclusões a que havia chegado junto ao analista. “Aqueles pensamentos pareciam uma possessão demoníaca. Era um antagonismo impressionante... ele, um homem culto, empresário, bem informado e mente aberta, vivenciando um conflito interno, tendo plena consciência do que é certo e sentindo um desejo insano de fazer o que é errado... só pode ser uma possessão”.
Quando chegou em casa, Iza já estava dormindo. Ele já não suportava mais aquele sono excessivo de Iza e chegou à conclusão de que teria que falar com ela, pois estava demasiado atormentado para suportar aquele descaso. Entrou no quarto, aproximou-se da cama e puxou o lençol de Iza com violência. Ela acordou sonolenta e perguntou com voz branda: - O que foi que houve... Eu estava preocupada com você! – Toni olhou para ela irritado e disse em voz alta: - Eu já não agüento mais esse seu sono... Você não faz outra coisa a não ser dormir. - Iza tentando manter os olhos abertos, elevou o tom de voz e disse: - Eu não tenho culpa se você não sente sono! – Toni olhou para ela enfurecido e disse gritando: - Esse seu sono ainda vai nos separar... Preste bem atenção no que estou dizendo... Ainda vai nos separar! - E saiu do quarto batendo portas, indo sentar-se no sofá da sala. Iza, percebendo que ele realmente estava falando sério, foi atrás de Toni, e começou a acariciá-lo, e disse: - Eu não tenho culpa de ter sono, mas, vou tentar me controlar... Eu prometo! - E começou a me beijar, tentando me excitar, mas, em vão.- Toni virou-se para ela, olhou bem dento dos seus olhos e disse: - Não há tezão que resista a um parceiro que está sempre dormindo... Demonstra desinteresse, descaso, desconsideração. Em uma relação, o que se quer é ser desejado pelo parceiro, mas, como saber se se é desejado? Pelas demonstrações dadas pelo parceiro. Infelizmente, minha parceira demonstra o tamanho do seu desejo por mim “dormindo”. Devo ser muito ruim de cama mesmo!
Iza beijou-o demoradamente e disse com lágrimas nos olhos: - Mas eu te amo, te desejo, sinto tezão por você!
Ele a segurou pelo ombro, olhou em seus olhos e disse: - Infelizmente suas palavras não coincidem com as suas ações...
Após alguns momentos, ele levantou-se e saiu para a varanda para respirar um pouco de ar fresco. Enquanto Iza voltava para a cama.
Aquela seria mais uma noite de solidão. Toni entrou no banheiro para tomar um banho e se masturbou. E enquanto fazia isso, pensava no absurdo que estava fazendo. No quarto ao lado ele tinha uma mulher exuberante, mãe dos seus filhos, e ele se masturbando... Porque ela achava mais interessante dormir, que fazer amor com ele. Então pensou: “eu estou me desvalorizando demais... sei que sou um homem bastante atraente... tenho um bom porte físico, sem barriga, olhos azuis e cabelos levemente grisalhos, o que me dá um certo ar de sobriedade. E além do mais, percebo os olhares de mulheres bastante interessantes nos locais que freqüento. Entretanto, não gostaria de me separar de Iza, pois apesar de tudo, eu a amo muito. Tem que haver uma outra solução”.
“Tem que haver outra solução!” Aquela frase não saía da sua mente. Então, começou a pensar em uma solução possível para o seu problema. “Mas qual?” – pensou ele – Dr. Caruso não o estava ajudando em nada. Ele estava desperdiçando tempo e dinheiro. “O que fazer?” – perguntou para si mesmo, e pensou: “Talvez ela esteja sob os efeitos da monotonia sexual. Embora eu seja bastante criativo, em doze anos, tudo acaba se tornando corriqueiro. Eu preciso dar uma mudança radical em nossa vida sexual, para tentar aumentar o interesse de Iza. Será que ela precisa se relacionar com outros homens para efeito de comparação?” “Talvez!”.
“Vou tentar descobrir se Iza tem mais alguma fantasia sexual. Será uma tarefa árdua, pois ela é uma mulher muito reservada”.
Toni deitou-se na cama ao lado de Iza e começou a acariciar seu corpo. Ela estava dormindo e resmungou algo. Ele não deu importância e continuou a acariciá-la, até que acordasse com um suspiro.
Toni lutou desesperadamente contra sua auto-estima e implorou para que Iza fizesse amor com ele. Ela não disse nada e beijou-o com ternura. Então, livraram-se de suas roupas e começaram a se amar. Toni a beijou na nuca e percorreu suas costas com a língua, até parar nas nádegas. Depois, ela virou-se e ele beijou sua vagina. Então, introduziu o dedo no canal vaginal e começou a falar imoralidades. E perguntou como tinha sido sua primeira experiência sexual.
Iza disse que não gostava de falar do passado, mas Toni, insistiu veementemente até que contasse: - Ta bom... – disse Iza indiferente - não foi nada de extraordinário... Eu tinha um namorado de quem gostava muito e quando completei dezoito anos, achei que era hora de me tornar mulher... Um dia, enquanto namorávamos no carro, ele veio por cima de mim, tirou minha calcinha e ploft... Satisfeito?
Toni olhou para ela um tanto decepcionado e disse: - Quer dizer que o dia mais importante para uma fêmea, que é o momento de transição de adolescente para mulher, você resume com um... “Ploft”? - Mas ele não podia se aborrecer: respirou fundo e continuou com o dedo onde estava, e então disse: - Eu fico excitado com suas experiências e gostaria que você as compartilhasse comigo. Eu sinto um desejo enorme de transar com você juntamente com outro homem!
Iza contorceu-se na cama e disse: - Você só pode estar brincando... Eu jamais faria tal absurdo!
Toni percebeu claramente que as suas palavras não coincidiam com a linguagem do corpo, pois sua vagina ficou de tal forma molhada que demonstrava claramente que Iza havia ficado excitada.
Então continuou: - Eu falo sério... Eu gostaria de vê-la tranzando com outro homem e participar... Gostaria de fazer dupla penetração... Um por traz e outro pela frente.
Iza tentava demonstrar repugnância, mas seu corpo dizia o contrario. Então ela pediu para mudar de assunto e Toni não insistiu. Mas sabia agora dos desejos dela. Mesmo que não os assumisse. E em outra oportunidade, voltaria novamente a tocar no assunto, pois o terreno já estava preparado. E fizeram amor alucinadamente, como há muito tempo não faziam.
Toni ficou imensamente satisfeito e dormiu como um bebe. Como há muito tempo não o fazia.
No dia seguinte ele estava radiante, pois aparentemente havia encontrado a solução para o seu problema conjugal.
Ele havia conseguido deixar Iza extremamente excitada, mesmo que ela não o admitisse. Talvez ali, estivesse a solução.”“.
Hoje aconteceu um fato curioso: enquanto Toni e alguns homens jogavam conversa fora sobre mulheres, Toni lembrou-se de que Iza havia deixado escapar uma frase bastante reveladora.
Estavam falando de preferências sexuais e fantasias. Um dizia uma coisa, outro outra, e num momento de distração, Iza disse que tinha curiosidade de tranzar com um negro. Somente Toni ouviu, mas para ele, foi o bastante. Logo a sala ficou cheia novamente e mudaram de assunto.
Mais tarde, Toni vestiu-se e foi ao consultório do Dr. Caruso para conversar. Ele não havia marcado consulta, mas, resolveu arriscar mesmo assim.
Entrou no carro e foi para o bairro da Tijuca, onde fica o consultório.
No caso de não ser atendido, estava decidido a entrar em um restaurante, jantar e tomar alguns drinques. Mas tudo saiu como planejou e quando entrava no edifício onde fica o consultório, teve a grata satisfação de encontrar o Dr. Caruso no elevador. Que ao vê-lo, foi logo perguntando: - Você tem consulta marcada para hoje? - Não! – respondeu Toni - Estou aqui arriscando, mas, se não for possível me atender, certamente entenderei.
Dr. Caruso era um velho amigo, passou o braço sobre o seu ombro e disse em tom amigável: - Vamos! Hoje a consulta é grátis!
Entraram no consultório e Dr. Caruso serviu-lhe uma bebida. Sentaram-se no sofá e com nossos copos nas mãos, fizemos um brinde e bebemos um gole.
Dr. Caruso sentou-se de maneira relaxada, cruzou as pernas, passou o braço sobre o encosto do sofá e perguntou: - Mas, diga-me Toni, o que o traz aqui... Aconteceu algum fato novo? – Toni respirou profundamente, sorveu mais um gole de bebida e disse: - Sim doutor, acho que encontrei o caminho... Vou parar de me cobrar atitudes e comportamentos que não sou capaz... Chega de me culpar por tudo... Acho que preciso ter momentos de completa irresponsabilidade... Preciso deixar de ser certinho e fazer algumas travessuras... Viver algumas aventuras... Viver a vida
Dr. Caruso irrompeu em generosa gargalhada, enquanto levantava para servir-se de mais uma dose daquele bom Chivas e disse: - Claro que sim caro amigo claro que sim... Você está certo, mas, até mesmo para ser irresponsável e travesso, precisa fazer isso de maneira responsável, para não ferir outrem.
Toni ficou calado por alguns momentos refletindo sobre as palavras dele, procurando alguma coerência e disse: - Sinto meu espírito inquieto, e preciso fazer algo para acalmá-lo... Sabe aquele momento de travessura no qual a gente prega uma peça na professora, e ela fica danada da vida, procurando o culpado... Aquele desejo de fazer o proibido... É disso que falo. E estou preste a fazer algo assim. Só preciso achar os meios e o momento certo.
Dr. Caruso ergueu o copo, franziu a testa e disse em tom de aconselhamento: - Cuidado para não se machucar e acima de tudo, não machucar outras pessoas. Siga os conselhos do velho amigo... E se isso que pretende não irá ferir nem a você, nem a ninguém, vá em frente! Entretanto, gostaria muito de saber o que pretende, pois você conseguiu aguçar muito a minha curiosidade... De que se trata?
- Não seja curioso, caro Doutor... - disse Toni - não seja curioso... Tudo há seu tempo... Além do mais, estou um tanto embriagado e não estou coordenando meus pensamentos... Preciso ir para casa... Nos falamos em breve...
Doutor Caruso não insistiu... Percebeu que ele não estava acostumado a beber e o pouco que havia bebido, foi o bastante para provocar uma leve embriagues. Acompanhou-o até a porta e despediu-se sorrindo.
No dia seguinte Toni acordou com uma forte dor de cabeça, provocada pela bebida. Relutou um pouco para levantar-se da cama, mas, as obrigações eram mais importantes e imperiosas.
Ele não sentia nenhuma vontade de trabalhar... Estava sufocado por uma força invisível, que lhe oprimia o peito.
Entrou na oficina desanimado e esperou que os ajudantes chegassem. Mas não havia muito que fazer; distribuiu as tarefas e sentou-se atras de uma mesa, e ficou perdido em pensamentos.
CAPÍTULO IV
Por volta do meio dia, Toni recebeu um telefonema de um amigo que não via há anos, convidando-o para ir ao seu escritório no centro da cidade, pois tinha algo importante para falar com ele.
Toni que ficou curioso e atendeu o pedido de Venâncio prontamente. Entrou no carro e dirigiu apressado para o centro da cidade.
Logo que chegou, foi recebido à porta por Venâncio. Ele estava mais gordo e mais velho. Certamente teve a mesma impressão a respeito de Toni, mas, não comentaram nada. Venâncio sorriu amigavelmente e deu-lhe um forte abraço. Havia mais de vinte anos que não se viam, e certamente teriam muito a contar um para o outro.
Venâncio convidou-o a entrar indicando uma poltrona aveludada vermelha, para que se acomodasse. Toni deu uma olhada de reconhecimento no ambiente e ficou satisfeito com o que viu: uma sala ampla, um enorme tapete tipo persa num tom de vermelho, uma estante sólida de madeira escura, livros de direito, uma enorme mesa que servia de escrivaninha, cadeiras com o encosto alto, revestidas com veludo também vermelho, um bar anexo, um frigobar com uma cafeteira em cima e um arquivo de aço. Tudo estava de acordo com o propósito a que se destinava.
Venâncio permaneceu em silêncio por alguns instantes parecendo estar organizando os pensamentos, e estudando a melhor maneira de iniciar uma conversa.
Venâncio demonstra estar claramente perturbado com a presença de Toni: levantou-se, caminhou pela sala até o bar, apanhou dois copos, serviu duas dozes de uísque e perguntou: - Gelo? - puro – respondeu Toni - Venâncio caminhou até ele e passou-lhe um dos copos; estenderam os copos e fizeram um brinde em silêncio.
- O que tem feito? - perguntou Venâncio - Quanto tempo não nos vemos... - É, bastante tempo... – respondeu Toni - mas até agora não entendi o propósito do seu convite... O que você quer de mim?
Venâncio sentou-se em uma cadeira em frente a ele e disse: - Bem, a história é longa, mas, temos bastante tempo... Como você deve ter visto a plaqueta na porta, este é um escritório de investigação particular... - Mas você não é advogado? – perguntou Toni. - Sim! - ele respondeu - Mas a vida levou-me a enveredar por este caminho e tenho obtido sucesso, até agora... Entretanto, esbarrei em um problema maior que eu... E é por isso que preciso de você... - Não entendi! – disse Toni - Eu explico... - disse ele - na época em que éramos militares, eu soube que você fazia parte do Serviço de Investigação e Justiça, e soube também que você jamais deixou de resolver sequer um caso, por mais complicado que fosse... Pensando nisso, decidi pedir sua ajuda para me ajudar a resolver um caso complicado e que envolve um Coronel da Força Aérea.
Toni estava pasmo com a proposta de Venâncio. Ficou estático por instantes até que coordenasse as idéias, e respondeu: - Esses caras são da pesada... Nesse país, são quase intocáveis, mas, ainda não entendi o que quer comigo!
Venâncio ficou de pé e disse secamente: - Quero que resolva esse caso para mim... Você conhece os meios, sabe como funciona a mente dos militares e acima de tudo, sabe como chegar a eles.
Toni levantou-se e caminhou de cabeça baixa pela sala, colocou a mão no queixo e disse: -Eu não sei como posso ajudá-lo... Não passo de um mecânico de refrigeração... - Não me interessa o que você é agora, mas o que você foi... - disse Venâncio - eu não posso confiar na polícia, nem nos militares... Você pode ganhar uma boa grana! - Mas você não me disse do que se trata... - disse Toni - e eu gosto de saber onde estou me metendo... - Para mim é uma questão pessoal... - disse Venâncio - a garota era minha amiga... - Que garota? – perguntou Toni enfático - A garota de Programa desaparecida... - Então se trata de procurar uma garota desaparecida... – perguntou ele - Morta! - Venâncio disse - Desaparecida ou morta? – perguntou Toni - Venâncio sorveu o uísque de um só gole, caminhou pela sala e disse: - Provavelmente morta... Ela me coutou que estava sendo ameaçada pelo Coronel, que dizia que se ela o deixasse a mataria... Mas você não precisa responder agora, leve esta pasta para casa, leia atentamente e depois diga se está dentro ou não! - Quem está pagando? – perguntou Toni - O pai da garota! - respondeu Venâncio.
Toni permaneceu em silêncio enquanto dava uma olhada superficial na pasta. E pensou: “como estava envolvido em algo inteiramente novo”, então perguntou: - O seu interesse nesse caso é apenas profissional? - Não! - Venâncio respondeu - Como eu disse, ela era minha amiga... - Era? - interrogou - Quer dizer que você tem certeza de que está morta! - Não! - ele disse - Não é bem assim...
Venâncio demonstrava estar claramente perturbado, então julgou Toni, ser o momento de partir. Levantou-se, caminho até a porta com a pasta nas mãos, e disse: - Preciso ir. - Venâncio caminhou até ele, abriu a porta, e disse: - Pense com carinho no assunto, meu amigo... Pense no assunto!
Toni saiu dali com um turbilhão de pensamentos invadindo sua mente. Ele estava de tal forma surpreso que mal podia acreditar que aquilo estivesse acontecendo com ele. Ele jamais imaginaria reencontrar Venâncio, ainda mais em circunstancia tão peculiar.
Mais tarde, em casa, sentou-se no sofá da sala e examinou cuidadosamente a pasta que continha as informações sobre o caso.
Dizia:
“Caso Suane”
Nome: Neusa Maria Silva
Idade: 27 anos
Estado Civil: Solteira
Naturalidade: Curitiba (Paraná)
Filiação: Nelson Pereira da Silva e Justine Silva
Escolaridade: Superior
Profissão: Profissional do Sexo (garota de programa)
Endereço: Rua Henrique Dumont, 111 apartamento 406, Ipanema, Rio de Janeiro.
Informações pessoais: Pele morena, cabelos castanhos, olhos castanhos, estatura mediana. Obs: (Bonita).
Vista pela última vez no dia onde (11) de novembro do corrente ano (2002).
Declaração do Porteiro Sr. Roberto: “No dia onze, por volta das dez horas da manha, Dona Suane subiu levando duas sacolas de compras. Passou aqui na portaria, cumprimentou-me. Pegou o elevador e subiu”.
No final da tarde levei umas correspondências ao apartamento onde morava a moça, toquei a campainha varias vezes, até que resolvi empurrar a porta. Esta estava aberta... Entrei e vi que o apartamento estava vazio, sem ninguém, e eu não havia visto Dona Suane sair. Chamei imediatamente o síndico, que chamou a polícia.
Quando perguntado sobre o comportamento da moça, o Sr. Roberto disse: “Era uma moça bastante sociável, entretanto, alguns moradores mais conservadores criticavam o seu modo de vida, e embora ela recebesse alguns clientes em seu apartamento, jamais dava motivos para reclamação dos vizinhos”.
Aqueles dados eram muito precários... Na verdade não acrescentavam muito. Toni teria que começar o trabalho de investigação do zero.
Na verdade, a oficina de Toni estava atravessando um período de crise. Os negócios iam mal e a possibilidade de ganhar uma grana extra não poderia ser desprezada. Além do mais, seria uma experiência excitante. Talvez, fosse aquela a oportunidade de sair da rotina insuportável que estava a sua vida.
Ele estava absorvido pela leitura de tal forma que não percebeu quando Iza entrou na sala e posicionou-se atras dele, e começou a ler por cima do seu ombro.
Subitamente, Iza perguntou: - O que é isso? – Toni olhou para ela assustado e aborrecido e disse: - Isso é invasão de privacidade! - Iza percebeu que ele estava irritado e disse: - Ih, desculpe... Não vou te incomodar mais... - e saiu.
Aquela passividade de Iza o incomodava. Ele queria que ela debatesse com ele... Gostaria que o questionasse, o desafiasse, entretanto, isso não acontecia.
Não comentou com Iza o que pretendia fazer juntamente com Venâncio. E ela não perguntou.
Eles estavam num estagio onde não mais havia diálogo, apenas tolerância. Iza não demonstrava interesse por nada que ele fazia. Estava reclusa em seu mundinho particular e frívolo. Os interesses caminhavam em sentidos opostos.
Toni passou a noite inteira pensando sobre o que fazer para descobrir o paradeiro de Suane, mas, os dados eram muito precários, precisaria juntar depoimentos, provas materiais, provas circunstanciais, conversar com pessoas amigas e conhecidas da moça.
Logo que amanheceu, Toni trocou de roupa e foi para o escritório de Venâncio, para certificar-se de que falava sério e tentar informar-se melhor.
Logo que chegou, procurou um estacionamento particular e estacionou seu carro. Caminhou duas quadras até chegar à rua Erasmo Braga, onde ficava o escritório de Venâncio, no numero 618, 6° andar. Ao chegar à portaria, foi informado pelo porteiro que Venâncio ainda não havia chegado. Então, entrou num bar adjacente e pediu um café. E ficou por ali por mais de meia hora, até que viu quando Venâncio se aproximava com seu costumeiro terno preto.
Levantou-se apressado e caminhou até ele, que sorriu amigavelmente e disse: - Ora, ora... Chegou cedo! Vamos subir?
Entraram no elevador e subiram em silêncio. Logo que chegaram ao andar desejado, Venâncio abriu a porta e indicou-lhe a saída, caminharam uns dez metros pelo corredor até chegar à porta do escritório. Venâncio retirou as chaves e abriu a porta, e entraram. Venâncio colocou a pasta de couro marrom sobre a mesa e perguntou: - Leu o dossiê? – Toni sorriu ironicamente e disse: - Chama isso de dossiê? - e jogou a pasta sobre a mesa. Venâncio percebendo sua irritação, disse: - Calma... Existem inúmeras informações que deixei em aberto, pois, precisava de confirmação... - Essa história está muito estranha, Venâncio... - disse ele - Não há nada de estranho... - Venâncio justificou nervoso.
Naquele momento Toni começava a acreditar que Venâncio escondia algo e perguntou: - Como é que um pai, morando no Paraná, descobre um tal Venâncio, investigador particular, no Rio de Janeiro? O mais lógico seria contratar um profissional local, não acha? E mais... Precisamos entrar num acordo sobre honorários e acima de tudo, informações... Informações verdadeiras e cooperação, pois tenho a nítida impressão de que você esteja escondendo algo.
Venâncio estava inquieto... Caminhava de um lado para o outro da sala, de modo que o irritava, então disse: - Pare, e sente-se pelo amor de Deus, você está me dando nos nervos... E se tem algo a me dizer, faça-o agora!
Toni retirou um bloco de notas de dentro de uma pasta e disse em tom imperativo: - Conte-me tudo o que sabe... Quero nomes, endereços, locais, datas e circunstâncias... Tudo que possa servir como pista.
Toni sentou-se melhor na cadeira e ficou esperando que Venâncio começasse a falar, para fazer suas anotações. Então Venâncio começou: - Bem, tudo começou quando fomos apresentados por um amigo chamado Daniel... Suane era uma jovem bonita e divertida, embora fosse garota de programa, mas o seu bom humor era contagiante e não tardou o nosso reencontro. Eu fiquei impressionado com aquela moça, que apesar da atividade que exercia, era meiga e inteligente. Surgiu entre nós, uma espécie de “amizade” e nos tornamos confidentes. Suane coutou toda a sua trajetória, desde que saíra da casa dos pais em Curitiba. Disse que não podia mais renunciar ao glamou, das roupas caras e locais sofisticados, mesmo que o preço fosse alto... - Você se apaixonou por ela? – perguntou Toni - Não! - Venâncio respondeu - Não sei... Talvez... Sei lá... Sei apenas que gostava dela, e gostaria de ver o culpado pela morte dela na cadeia! - Então, você tem certeza de que a moça foi assassinada! – afirmou Toni - Não, mas... Tudo leva a crer que sim. - disse Venâncio.
Toni fez algumas anotações que julgou importantes e disse: - Prossiga! - Venâncio levou a conversa para outro lado, evitando o aspecto pessoal.
Em determinado momento, Venâncio disse que o Coronel Carvalho era cliente habitual de Suane, e que talvez, existisse um envolvimento amoroso entre eles.
- O coronel é um homem de posses e poderoso... Enchia Suane de presentes caros, jóias e até mesmo um carro de luxo. - disse Venâncio.
Ele permaneceu calado por alguns momentos para organizar as idéias, e então perguntou: - Mas você ainda não me contou como o pai da moça fez para contratar os seus serviços, que agora são meus também, você pode me explicar?
Venâncio coçou a cabeça e disse um tanto sem jeito: - Bem, amigo... Isso é uma longa estória... - Tenho todo tempo do mundo! – interrompeu Toni - Bem, como você já sabe, eu também estava de certa forma envolvido com Suane... - Esse é um outro ponto que ainda não está claro... Você precisa me explicar melhor! - interrompeu novamente - Eu gostava da companhia dela, pois era alguém alto astral, divertida e alegre, embora um tanto explosiva. Logo que tive conhecimento do desaparecimento de Suane, tratei de entrar em contato com a família, acreditando que ela pudesse Ter ido visitar os pais ou coisa assim. Pois bem, peguei um ônibus na rodoviária Novo Rio e fui até Curitiba... - Mas você tinha o endereço dos pais dela? – perguntou Toni - Não, mas, durante um de nossos papos, Suane mencionou Ter uma irmã estudando na Universidade Tuiuti do Paraná, cursando a cadeira de Letras, e que era conhecida pelo apelido de Zéo... Esse seria o meu ponto de partida, entendeu?
Toni pensou por um momento e disse: - Claro... Claro! Mas, esse Coronel, você por acaso tem o endereço dele? - Venâncio apenas acenou a cabeça positivamente, e permaneceu em silêncio.
Após alguns minutos de silêncio, Venâncio disse: - Eu não tenho propriamente o endereço, mas, sei que ele serve no CIEAer. No Campo dos Afonsos... Não é uma coincidência? - Eu não acredito em coincidências... - disse Toni irônico - tudo tem uma razão de ser... Obedece a um padrão pre-elaborado... Eu acredito que, de certa forma, os nossos destinos estejam interligados de alguma maneira... Mas você conseguiu falar com os familiares da moça? - Sim! - disse Venâncio - Foi até bastante fácil... Os pais da moça não sabiam como ela ganhava a vida, somente a irmã tinha conhecimento da verdadeira história. A princípio fiquei impressionado com a beleza da irmã da Suane... O nosso primeiro contato foi bastante pitoresco: eu cheguei em Curitiba na parte da manhã, procurei um hotel nas proximidades da rodoviária e instalei-me para descansar da viagem... Almocei e dormi até o anoitecer, depois, informei-me da direção da Universidade e fui para lá, a procura da tal Zéo... Procurei alguns alunos da cadeira de letras e fiz perguntas a respeito da moça, até que um deles disse conhecê-la, e levou-me até ela... Era uma moça loura, alta, cabelos lisos e bem cuidados, pele muito branca e sobrancelhas delineadas a lápis, que tive vontade de apagar para ver como ficaria... Era uma mulher que impressionava pela exuberância e pela doçura... Cheguei até a duvidar que fosse a pessoa certa, pois, Suane era completamente diferente da irmã. Quando perguntei por Suane, Zéo respondeu “quem?” Então eu disse: Suane, que mora no Rio de Janeiro e diz ser sua irmã! A moça franziu a testa tentando assimilar as idéias e disse: “Neusa!” Eu pensei rápido e disse: “Claro, Suane é apenas um anagrama, ou pseudônimo!” Então Zéo perguntou preocupada: “O que tem minha irmã?” Então a convidei para irmos tomar um suco em uma lanchonete, para podermos conversar mais à vontade. Chegando lá eu disse que Suane (Neusa), havia desaparecido, e perguntei se ela não havia dado notícias. Zéo teve uma crise de choro, pois sabia o tipo de vida que a irmã levava. Eu procurei acalmá-la e pedi-lhe para falar com os seus pais, e fomos para a casa destes. La chegando, conversei cautelosamente com o Sr. Nelson, procurando minimizar ao máximo o desaparecimento de sua filha, evitando qualquer pensamento sugerido de morte. Entretanto, Nelson era um homem astuto, e tirou suas próprias conclusões. Nelson assumiu fisionomia séria e pediu-me para encontrar sua filha, fosse de que jeito fosse. E que eu não poupasse esforços nem dinheiro, para localizar Neusa. - O pai da moça tem posses? – perguntou Toni - Ele é funcionário da prefeitura de Curitiba, e tem um bom salário, e provavelmente algumas economias. - respondeu Venâncio.
Toni fez uma pausa de alguns minutos para que Venâncio organizasse as idéias e os fatos, e então perguntou: - E o que diz o relatório da polícia? - Venâncio respirou fundo e disse decepcionado: - Nada!
Toni olhou fundo nos olhos do amigo e disse com aspereza: - A polícia do nosso país é de uma incompetência sem tamanho... Completamente obsoleta, corrupta, despreparada e desinteressada também. A justiça é falha, a polícia é falha, o sistema é falho... Onde é que vamos chegar? Na verdade, o que falta em competência, sobra em arrogância. Certamente vieram com aquela conversa de que antes do prazo legal de trinta dias, o desaparecimento não fica caracterizado. Eu se fosse governador do estado, tiraria a atribuição do trânsito das mãos da “polícia militar...” certamente sobraria mais tempo para a repressão à criminalidade... Todos sabem que o equipamento mais importante num carro de patrulha são: “os cones laranja e branco de trânsito”. - Você se lembra do Pereira? - perguntou Venâncio - Certo dia, em uma conversa informal, Pereira disse que quando está duro, “arreia” os cones para arrumar uns trocados... - Pereira é aquele cabo bobalhão que saiu da Força Aérea para ingressar na PM? – perguntou Toni - Esse mesmo! - disse Venâncio - Aqui está uma relação das pessoas amigas de Suane... Aí tem nomes, endereços e telefones.
Ficaram em silêncio por alguns momentos, enquanto ele lia atentamente as informações que Venâncio havia fornecido. Entretanto, apesar de toda a cooperação de Venâncio, algo parecia estar errado. Talvez fosse apenas cisma de Toni... Sei lá!
Ele colocou a pasta sobre a mesa, foi até o bar e serviu-se de um uísque, que sorveu de um só gole, colocou o copo sobre a bandeja de copos, apanhou suas anotações e a pasta, e saiu sem se despedir de Venâncio.
CAPÍTULO V
Toni estava sentindo uma sensação estranha... Sentia-se como se estivesse entre dois mundos: um real e outro imaginário, “sonho”.
De um lado, ele, um homem comum, que nem consegue resolver seus problemas conjugais. Do outro, um homem que aprendeu, durante um regime de ditadura militar, técnicas de investigação, sabotagem, táticas de guerrilha e terrorismo, sobrevivência e tortura e que fez coisas que gostaria de esquecer... Enterrar bem fundo nos arquivos da memória. E que agora estava tendo a oportunidade de pôr em prática, de uma maneira produtiva, tudo aquilo que aprendera.
“O Dr. Caruso não o estava ajudando em nada” - pensou – “as minhas conversas com ele não estão sendo nada produtivas... na verdade acho até que estou piorando, pois estou tendo muita dificuldade em atingir um orgasmo com minha esposa. Estou inconscientemente criando mecanismos para salvar o meu casamento”.
Alguns dias depois, enquanto navegava pela Internet, Toni entrou quase que acidentalmente em um site de um psicólogo chamado Cássio Reis.
Logo teve a intuição de entrar em contato através de E-mail. Contou todo o seu drama conjugal, e em alguns dias, obteve uma resposta parcial, pedindo maiores esclarecimentos. Novamente enviou E-mail, dando luz às questões mal esclarecidas, e ficou aguardando ansiosamente resposta.
Iza estava fazendo uma dieta, e estava obtendo bons resultados. Seu ânimo e humor haviam melhorado sensivelmente, parecia Ter recuperado sua alto-estima, e o relacionamento do casal dava sinais consideráveis de melhora.
Toni estava impressionado com a dedicação de Iza, pois estava levando a sério à dieta e os exercícios. Finalmente parecia que as coisas estavam entrando nos eixos. Até o diálogo teve uma melhora considerável. Iza estava se tornando uma pessoa dinâmica e participativa, e aquilo o agradava sobre maneira. Mas, por quanto tempo?
Afinal, tudo parecia caminhar ao sabor de ventos favoráveis. Por um lado, ele, preenchendo sua mente com a investigação, por outro, Iza, dedicada a dieta e exercícios físicos, as finanças estáveis... Estava bom demais para ser verdade. O único senão era quanto ao sexo, que continuava frio e sem graça.
Iza jamais dizia não, porém, não demonstrava interesse. E as poucas vezes que tomou iniciativa, demonstrava claramente ser uma atitude forçada... Não era natural, parecia algo estudado... Não sei bem como descrever. Mas não importa... Qualquer melhora era bem vinda.
“É Quarta feira e até agora não tive notícias de Venâncio”.– pensou Toni.
Vai ao seu encontro para colher mais dados e encontra o escritório fechado. Então, na portaria do prédio, pergunta ao porteiro sobre Venâncio e tem como resposta que este o viu pela última vez no Sábado pela manhã, e de lá para cá o escritório tem permanecido fechado.
Toni ficou um tanto desorientado com aquela notícia, entretanto, decidiu investigar por conta própria. Foi até o prédio onde a moça morava e interrogou o porteiro e mais dois empregados.
O porteiro disse que havia um homem forte, bem apessoado, cerca de quarenta e cinco anos, e que estava sempre muito bem vestido, que era freqüentador assíduo do apartamento de Suane, e que também havia um homem mulato, alto, que sempre usava terno preto e que entrava sempre pela garagem, mas que só aparecia à noite e saía quando o dia estava amanhecendo.
Aquela descrição me parecia familiar... Talvez Venâncio não lhe tivesse contado tudo. Concluiu que se quisesse realmente descobrir o que aconteceu com a moça, teria que investigar sozinho, e sigilosamente.
Perguntou ao porteiro se a moça tinha alguma amiga íntima. Este disse que sim: uma outra garota de programa que morava na mesma rua.
Foi até o endereço apontado pelo porteiro e se fez passar por um possível cliente.
Sheila recebeu-o com cordialidade, após acertarem o preço do programa.
Toni entrou no pequeno, mas bem decorado apartamento e sentou-se em um volumoso sofá, enquanto Sheila entrava no quarto para preparar-se.
Após uns quinze minutos, a moça retornou à sala vestindo uma belíssima langerie vermelha e sentou-se no seu colo. Ele a afastou com delicadeza e disse que queria apenas conversar. Sheila demonstrou surpresa e perguntou: - Você é impotente?
Sorriu gentilmente para ela e disse: - Claro que não... É que eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre uma colega sua, chamada Suane...
Sheila deu um salto e assustada disse: - Então, você é tira... Saia já do meu apartamento! - indicando o caminho da porta.
Toni sorriu procurando acalmá-la e disse: - Fique calma... Eu não sou tira; sou investigador particular...
Sheila ainda com a porta aberta, disse brava: - Dá no mesmo... Saia! Eu não quero confusão pro meu lado... A corda arrebenta sempre pro lado mais fraco... Por favor, saia!
Ele não estava disposto a sair dali sem nenhuma informação, ainda mais que estava claro que Sheila sabia de alguma coisa.
Caminhou até a porta e gentilmente a fechou, dizendo: - Eu preciso da sua ajuda... Por favor, me ajude... Eu represento um pai desesperado que quer saber desesperadamente o paradeiro da filha amada...
Sheila pareceu ficar comovida e abriu uma gaveta de onde retirou uma folha de papel dobrada e disse: - Eu não sei muito... Sei apenas que ela mantinha um relacionamento com um Coronel e com um Advogado... E que ela temia que algo lhe acontecesse. Certo dia, Suane me procurou e estava bastante nervosa, entregou-me esse papel e disse que se algo lhe acontecesse, eu encontraria a solução aí... Eu já li esse papel mais de mil vezes, mas não encontrei nenhum significado... Tome, talvez você encontre algum sentido nisso. - E passou o papel para as mãos de Toni.
Era uma espécie de desabafo:
UMA MULHER
Noite longa...(T) pensamentos conflituosos. Vêm assolar minha mente...(T) sinto vontade de nascer de novo e...(T) recomeçar. Como se fosse possível...(T) que saudade daquela caipira ingênua do interior...(T) como eu gostaria de recomeçar!
Estrelas, e luzes, e brilhos e noites, Em lugares sofisticados, já não tem mais importância. Como gostaria de recomeçar...(T) ser apenas uma mulher...(T) simples, com filhos com narizes escorrendo e... Um lar.
Uma sombra paira sobre minha cabeça, Não como se fosse um estigma...(T) uma mancha difícil de apagar, mas não perdi minha pureza. Ainda sou aquela menina que gosta de brincar de boneca, amarelinha e casinha.
Sou uma fêmea exuberante com alma de “A menina”.Que se emociona com o primeiro beijo... O primeiro amor...(T)
Agora meu corpo arde de sensualidade. Não sou uma mulher bonita e me faz bem os elogios dos tolos homens... Mesmo que sejam falsos.(T)
No auge dos meus vinte e seis anos, já vivi A rainha. Cortejada por homens de várias origens e níveis. O meu momento de “glória”... Ainda está por vir? Apesar de todo o luxo, pompa e assédio de homens interessantes...(T) vazio...(T) que por um breve instante no tempo, significava “glória” para mim.(T)
· meu corpo serpenteava ornado por Nefandos vestidos e jóias caríssimas, conquistados com o aluguel deste. O meu lado mulher vibrava com os acortes de “homens”, pobres idiotas, tão solitários como eu... Incapazes como eu, de conseguir um verdadeiro amor... Simples, caipira... Mas... Verdadeiro.(T)
A fêmea que morava em mim ansiava Cem vezes em aprimorar-se na arte de amar, dar prazer, dominar, ganhar dinheiro, presentes... Esqueceu-se de como amar de verdade.(T)
Um momento de reflexão: sinto-me uma tola Íbis, que renasce das cinzas. Meu corpo está puro, assim como minha alma. Ainda sou uma menina caipira. Mesmo que lapidada... Caipira e não “country”. Vejo o passado como um sonho meu... Apenas um sonho que o tempo apagará da minha mente, dando a esta a importância que merece... Um sonho.(T)
Geralmente diz-se: ontem, pertence ao Ontem. Hoje, sou apenas Suane, a mulher. Que perdeu muito da sensualidade e da libido, mas, não o amor. E que quer direcioná-lo a um só homem, simples, caipira e que por mais humilde que seja, fará de mim sua rainha.(T)
Eu serei senhora do meu castelo, mesmo que seja uma cabana. À sombra de um Carvalho, transformarei em um templo sagrado repleto de acólitos com narizes escorrendo. E os abençoarei, pois serão os frutos do amor dedicado a um só homem...(T) hoje sou apenas...(T) uma mulher... e esse homem, materializado, será meu Deus, ou meu Algoz...
Toni leu cuidadosamente aquele texto, enquanto Sheila olhava para ele.
A princípio, não parecia Ter nenhum outro significado especial, mas, sua intuição dizia que aquilo poderia “dar caldo”.
Dobrou cuidadosamente o pedaço de papel e perguntou a Sheila: - Posso ficar com isto?
Sheila demonstrando estar aliviada, disse: - Sim, sim, claro que pode... Vai ser um alívio me livrar desse papel!
Toni saiu dali apressado e ansioso em tentar solucionar aquele mistério. Caminhou aleatoriamente até uma praça adjacente e sentou-se em um banco, em baixo da copa de uma amendoeira. Abriu cuidadosamente a folha de papel e leu, releu, leu de traz para frente, de cima para baixo e não encontrou nada que fizesse sentido, mas, uma voz ecoava em sua mente, dizendo que ali estava a solução do mistério. O próximo passo agora seria contatar o Coronel Reginaldo G. Carvalho, e pressioná-lo para ver no que daria.
No dia seguinte, levantou cedo e foi para o Campo dos Afonsos, tentar descobrir algo sobre o Coronel.
Durante o trajeto, começou a arquitetar um plano: primeiro, ele precisava apresentar um bom motivo para entrar no quartel, pois o ingresso em uma organização militar é bastante difícil, e segundo, teria que Ter muito cuidado com as perguntas que faria a respeito do Coronel Carvalho.
Quando chegou próximo ao seu destino, ocorreu-lhe um lampejo... Lembrou-se da lei de Anistia política, sancionada pelo Presidente FHC. Este seria o meu passaporte de ingresso na organização militar desejada. Uma vez lá dentro, seria só procurar alguém conhecido, se é que ainda havia alguém conhecido passados vinte e um anos, mas, não custava tentar.
Assim que chegou ao corpo da guarda, dirigiu-se a uma sentinela e indagou sobre o local apropriado para conseguir informações e documentos inerentes a Anistia política. O soldado mostrou-se bastante solícito e encaminhou-o a um outro portão onde estavam um cabo e uma civil. Entregou sua identidade e recebeu um crachá, e indicaram-lhe a direção a tomar.
Quando adentrou, uma sensação de familiaridade invadiu o seu ser. Alguma coisa havia mudado, alguns prédios e galpões antigos haviam sido demolidos, dando lugar a edifícios modernos e envidraçados, mas, basicamente, o lugar era o mesmo.
Caminhou por uma alameda entre dois edifícios, perdido em suas memórias, até chegar ao Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica, atual UNIFA.
Ao chegar, perguntou a uma ordenança onde estava localizado o departamento pessoal, ou (Sub Sessão de Pessoal). Este se prontificou a acompanhar até o local; subiram uma escadaria, dobraram a esquerda, caminharam uns dez metros, e chegaram.
Toni ficou parado por um momento à porta da Seção, até que decidiu entrar.
Caminhou até um balcão e pediu informações a um Sargento Escrevente. Subitamente, alguém gritou: “Araújo... Araújo... você não é o Araújo?” - Sim! – respondeu Toni.
Então, um cabo levantou-se de traz de uma mesa e caminhou em sua direção, estendendo imediatamente a mão para cumprimentá-lo.
Toni forçou a memória tentando lembrar-se daquele homem, mas, sem sucesso. Estendeu a mão e o cumprimentou, dizendo: - Desculpe, mas, eu não me lembro de você...
Então o Cabo disse: - Everaldo... Lembra? Eu era recruta na época que você dava instruções de defesa pessoal e sobrevivência na selva!
Toni olhou fixamente para ele e disse: - Claro, claro, você trabalhava com o Godinho... É um prazer revê-lo. - O que o traz aqui? – perguntou ele - Estou em busca de documentos para habilitar-me a Anistia política... – respondeu Toni - preciso do meu histórico militar, (alterações) e do boletim de desligamento, para dar entrada do processo.
Everaldo lançou mão de uma folha de papel e escreveu o seu nome completo e disse: - Semana passada estiveram aqui o Marinézio e o Marcelino, também procurando documentos. Mas, afinal, o que você me conta de novo, o que está fazendo para viver? - Faço de tudo um pouco – Toni disse - tenho uma micro-empresa de prestação de serviços no segmento da refrigeração, escrevo contos, crônicas e também dois livros, e faço um bico como investigador particular... - Que legal... Parece que você tem uma vida bastante agitada e emocionante também. - disse ele. - Eu, como você pode ver, levo essa vidinha...
Toni ficou em silêncio por um momento e perguntei: - E o Major Carvalho, ainda continua aqui?
Everaldo recolheu alguns papeis que estavam em cima do balcão, e disse: - Ele agora é Coronel... - Claro... – Toni disse - pelo tempo já era de se esperar... Bem, amigo, vou abrir o jogo com você... Eu estou investigando a vida do cara, e preciso do endereço dele... Pois ele está ligado de alguma forma ao desaparecimento de uma garota de programa... - E o que você quer que eu faça? - Everaldo perguntou atônito.
Toni respirou fundo para desembargar as palavras da garganta, e disse secamente: - O endereço dele... Preciso falar com ele fora daqui e pressionar um pouco, para ver se o pássaro canta, entende?
Everaldo caminhou até o canto da sala, abriu um arquivo de aço, retirou uma ficha, levou-a a uma copiadora e trouxe a cópia ate o balcão, a antes de entregá-la a mim, disse desconfiado: - Isso pode me comprometer... - Fique tranqüilo... – respondeu Toni - ninguém jamais saberá que você me entregou isso! Agora preciso ir... Ligo para você na semana que vem, tchau!
Saiu dali satisfeito, pois havia sido mais fácil do que ele imaginava. E tinha em mãos mais uma peça do quebra-cabeças.
Naquele dia, ele sentia uma energia em seu corpo, e a excitação era tamanha que nem sentia o cansaço. Então, seguiu para o Leblon para esperar o Coronel Carvalho na portaria do edifício, mas, ainda era cedo, e decidiu entrar no Roxy em Copacabana, para assistir uma sessão de cinema, só para matar o tempo.
La pelas dezoito horas, saiu do cinema e foi para o Leblon, para a portaria do edifício onde mora o Coronel, com o objetivo de esperá-lo.
Não tardou e o ônibus azul marinho da Força Aérea parou na portaria e o Coronel, em trajes civis, desembarcou. Imediatamente dirigiu-se a ele chamando-o: - Coronel Carvalho!
Ele olhou-o com certo desprezo e perguntou: - Você me conhece? – Toni aproximou-se com cautela e disse sorridente: - Sim, tive a honra de servir sob seu comando no ano de 1980, mas isso não é o mais importante... Precisamos conversar sobre uma moça chamada Suane... - Acho que você deve estar me confundindo com outra pessoa, rapaz! - disse ele
Toni levantou a jaqueta e exibiu uma arma, e disse: - Eu não estou aqui para brincadeiras Coronel... Não quero lhe fazer nenhum mal, quero apenas fazer algumas perguntas... - Você é da Polícia? - perguntou ele - Não... – respondeu Toni - sou investigador particular... - Vamos subir até o meu apartamento... Esta hora ainda não chegou ninguém, e poderemos conversar mais tranqüilos! - disse ele, e entraram no prédio.
Logo que desceram do elevador, Toni percebeu que o Coronel estava visivelmente nervoso, meteu a mão no bolso e retirou nervosamente um molhe de chaves, demonstrando dificuldade em identificar a chave certa para abrir a porta. Talvez, estivesse incomodado com a arma, ou quem sabe, algo em sua consciência o incomodasse mais que a presença de Toni, mas nunca saberia.
Após abrir a porta com certa dificuldade, entraram no enorme apartamento, minuciosamente decorado e caminharam até um cômodo que servia de escritório. O Coronel convidou-o a sentar e fechou a porta com a chave e disse, demonstrando claramente sua irritação: - Estamos completamente a sós... Diga logo o que quer!
Toni sentia um certo prazer em ver um homem poderoso como aquele, acuado, tentando demonstrar uma segurança que não tinha. Então disse: - Eu não estou aqui para falar, mas sim para ouvir... - O que quer saber? - perguntou ele - Tudo sobre Suane! – Toni disse.
O coronel irrompeu em estridente gargalhada, e disse irônico: - O que o leva a crer que eu conheça tal pessoa? - Não brinque comigo Coronel... – ameaçou Toni, exibindo a arma - está tentando subestimar minha inteligência... Tenho testemunhas e provas materiais do seu envolvimento com a moça... - Que provas? - ele perguntou - Está bem, quer brincar de gato e rato... Bem, tenho um recibo da compra de um colar em uma renomada joalheira, tenho cópias de cheques pagando aluguel e condomínio do apartamento em que a moça morava, tenho o recibo da compra de um automóvel... Quer que eu prossiga? Onde está a moça, Coronel?
Naquele momento, Toni viu lágrimas saírem dos olhos do Coronel, que tentou disfarçar e disse com voz embargada: - Eu... Não... Sei... Gostaria muito de saber, mas, não sei! Agora, gostaria que você saísse e me deixasse em paz... - Não é tão simples assim, Coronel... – Toni disse - eu preciso saber a sua versão dos fatos... Uma jovem de vinte e sete anos desapareceu misteriosamente, e tudo indica que o senhor esteja envolvido... - Bem, não adianta negar, mas... - ele começou a desabafar - eu amava aquela mulher, mesmo sabendo o tipo de vida que levava, eu a queria só para mim... - Isso não é motivo para um assassinato? – interrompeu Toni - quem ama não mata meu jovem... Quem ama não mata!
Toni fixou seu olhar no rosto do Coronel e disse irritado: - Ora Coronel, não me venha com filosofia barata, nós sabemos que na prática as coisas não são bem assim... Portanto, não tente subestimar minha inteligência, o Senhor deve conhecer aquela estória do psicólogo... “Certo dia, um psicólogo resolveu classificar o Coeficiente de Inteligência numa escala de 1 a 1000, de forma inversamente proporcional. Os debilóides ele classificou como” Tar “, os dez vezes mais debilóides, como “Deca Tar”, os cem vezes mais debilóides, como “Centi Tar”, e os mil vezes mais debilóides, como “Mili...”, bem, preciso continuar?” - Muito engraçado... - ele disse com ar de deboche - estou morrendo de rir... Eu só queria ver se você teria coragem de falar assim com uma autoridade militar nos tempos da ditadura... Mas não é essa a questão... Você está dentro da minha casa e não me sinto à vontade sendo ofendido...
O Coronel caminhou até a porta, abriu-a e convidou-o gentilmente a sair. Existe o momento certo para tudo, e aquele momento era o de recuar. Então, Toni caminhou lentamente até a porta e disse: - Terá notícias minhas... - e saiu.
Quando chegou à portaria, estava ainda mais confuso que antes. O Coronel lhe pareceu bastante sincero em suas afirmações. Então pensou: “Eu não tenho nenhuma simpatia por aquele homem, na verdade sinto um certo desprezo, mas, tive a nítida impressão de que estava falando a verdade”.
Ele não podia deixar que motivos pessoais interferissem no seu julgamento.
Caminhou satisfeito até o estacionamento e foi para casa, se deliciando por Ter feito aquele homem supostamente poderoso tremer nas bases.
CAPÍTULO VI
- Estou com uma dor de cabeça insuportável... - ele disse para Iza - parece que vai explodir em mil pedaços...
Iza, compadecida, perguntou: - Quer que eu lhe sirva algumas gotas de Dipirona?
Toni olhei para ela, com os olhos entreabertos e disse: - Sim, por favor!
Iza caminhou até a cozinha, local onde guardavam os medicamentos e um minuto depois retornou com um copo em uma das mãos e uma xícara de café na outra.
Toni pegou imediatamente o copo com o medicamento e o sorveu de um só gole... o gosto era terrível, e depois o café. Iza sorriu ao vê-lo fazer careta para engolir o remédio, e disse com bom humor e uma certa dose de ironia: - É uma delícia, não?
Ele limitou-se apenas a sorrir. E deitou-se novamente.
Mais tarde, enquanto repousava, recebeu uma ligação de Sheila, pedindo-lhe para ir ao seu encontro. Disse Ter novidades e que havia encontrado algo que poderia lhe interessar, mas, que só revelaria pessoalmente.
Toni marcou um encontro em seu apartamento dentro de uma hora e saiu apressadamente.
Quando chegou ao apartamento de Sheila, notou que esta estava ofegante e eufórica e tinha nas mãos algo que parecia uma agenda. Caminhou até ela e esta passou às suas mãos a agenda. Abriu cuidadosamente e constatou tratar-se de um diário e não uma agenda e começou a ler.
Sheila olhou-o com olhos arregalados e curiosos, então disse: - Eu o encontrei no fundo do armário que Suane usava para guardar suas roupas... li página por página e não encontrei nada que fizesse sentido, mas, talvez, alguém com olhos treinados possa encontrar algum sentido nisso.
Ele também estava curioso e excitado com o achado, e disse: - Você fez muito bem em me chamar... vou levar este diário para casa e ver se encontro alguma pista. - Vá, preciso atender um cliente! - disse ela, e abriu a porta convidando-o a sair.
Logo que chegou em casa, foi para o quarto e começou a ler o diário, que iniciava da seguinte maneira: “22 de abril de 2002 - Hoje tive como cliente um homem muito importante... um Coronel da Força Aérea. Ele, apesar de ser um homem muito grande e forte, foi muito gentil comigo. Desde o primeiro momento, senti que aquele homem era especial, o que se confirmou quando, durante o sexo, tive um vigoroso orgasmo. Prazer que já não sentia há tempos.” - Virei a página - “23 de abril de 2002 - Hoje fiquei em casa pois o cache que recebi do Coronel foi bastante generoso, e posso me dar ao luxo de ficar de papo pro ar. No final da tarde estive no Shopping e comi uma pizza de frango com catupirí, uma verdadeira delícia, e depois de andar um pouco, voltei para casa para dormir cedo.”
Virei e li várias páginas, sem encontrar nada que fosse relevante, até que no dia marcado como 8 de setembro, Suane registrou Ter conhecido Venâncio, mas sem nenhuma outra menção... como se fosse apenas alguém casual, como tantos outros. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a menção de um tal “Claudier”, que parecia ser alguém especial, e que mora em Curitiba. Talvez algum namorado.
Toni fechou o diário e ficou meditando por um longo tempo. Procurou manter sua mente vazia e distante de tudo aquilo para dar lugar às intuições. E não tardou... imediatamente sentiu um desejo de verificar novamente o texto que Sheila havia lhe dado. Abriu a folha de papel e, olhando mais atentamente, verificou tratar-se de um anagrama, onde a primeira letra maiúscula de cada parágrafo tinha um significado. Lendo-se de cima para baixo, encontrava-se a frase: N-E-U-S-A N-O A-U-G-E.
Neusa nada mais é que Suane... basta apenas mudar a ordem das letras.
A partir daquela descoberta, começou a procurar outras pistas embutidas no texto e não demorou para encontrar os nomes “V-E-N-A-N-C-I-O” e “Carvalho”, escrito com letra maiúscula. Entretanto, aquilo não significava nada... poderia ser apenas um passatempo. Ou quem sabe, uma demonstração de carinho.
Naquele momento, ele não tinha certeza de nada mas, intuía que estava no caminho certo, e que havia descoberto apenas a ponta do iceberg.
Colou o texto ao lado da tela do computador, para que pudesse tê-lo a vista a todo momento, e quem sabe, encontrar algo mais.
UMA MULHER
Noite longa...(T) pensamentos conflituosos. Vêm assolar minha mente...(T) sinto vontade de nascer de novo e...(T) recomeçar. Como se fosse possível...(T) que saudade daquela caipira ingênua do interior...(T) como eu gostaria de recomeçar!
Estrelas, e luzes, e brilhos e noites, Em lugares sofisticados, já não tem mais importância. Como gostaria de recomeçar...(T) ser apenas uma mulher...(T) simples, com filhos com narizes escorrendo e... um lar.
Uma sombra paira sobre minha cabeça, Não como se fosse um estigma...(T) uma mancha difícil de apagar, mas não perdi minha pureza. Ainda sou aquela menina que gosta de brincar de boneca, amarelinha e casinha.
Sou uma fêmea exuberante com alma de “A menina.” Que se emociona com o primeiro beijo... o primeiro amor...(T)
Agora meu corpo arde de sensualidade. Não sou uma mulher bonita e me faz bem os elogios dos tolos homens... mesmo que sejam falsos.(T)
No auge dos meus vinte e seis anos, já vivi A rainha. Cortejada por homens de várias origens e níveis. O meu momento de “glória”... ainda está por vir? Apesar de todo o luxo, pompa e assédio de homens interessantes...(T) vazio...(T) que por um breve instante no tempo, significava “glória” para mim.(T)
· meu corpo serpenteava ornado por Nefandos vestidos e jóias caríssimas, conquistados com o aluguel deste. O meu lado mulher vibrava com os acortes de “homens”, pobres idiotas, tão solitários como eu... incapazes como eu, de conseguir um verdadeiro amor... simples, caipira... mas... verdadeiro.(T)
A fêmea que morava em mim ansiava Cem vezes em aprimorar-se na arte de amar, dar prazer, dominar, ganhar dinheiro, presentes... esqueceu-se de como amar de verdade.(T)
Um momento de reflexão: sinto-me uma tola Íbis, que renasce das cinzas. Meu corpo está puro, assim como minha alma. Ainda sou uma menina caipira. Mesmo que lapidada... caipira e não “country”. Vejo o passado como um sonho meu... apenas um sonho que o tempo apagará da minha mente, dando a esta a importância que merece... um sonho.(T)
Geralmente diz-se: ontem, pertence ao Ontem. Hoje, sou apenas Suane, a mulher. Que perdeu muito da sensualidade e da libido mas, não o amor. E que quer direcioná-lo a um só homem, simples, caipira e que por mais humilde que seja, fará de mim sua rainha.(T)
Eu serei senhora do meu castelo, mesmo que seja uma cabana. À sombra de um Carvalho, transformarei em um templo sagrado repleto de acólitos com narizes escorrendo. E os abençoarei, pois serão os frutos do amor dedicado a um só homem...(T) hoje sou apenas...(T) uma mulher... e esse homem, materializado, será meu Deus, ou meu Algoz...
Toni tinha certeza que Suane ou Neusa, era uma moça culta e inteligente. Ele só não sabia os motivos que a teriam levado a tornar-se garota de programa. E quem era Claudier? A cada dia ficava mais claro que ele teria que ir a Curitiba fazer perguntas. Mas, precisava de dinheiro para custear as despesas, teria que procurar Venâncio.
No dia seguinte, acordou sentindo-se muito bem. Estava com as energias revigoradas e seu espírito estava em paz... era uma sensação muito agradável mas, por quanto tempo duraria?
Iza acordou pouco tempo depois, e beijou-o com volúpia. Ele correspondi mas, logo pensamentos negativos invadiram sua mente: “está bom demais para ser verdade...” e levantou-se da cama sem dar maiores explicações.
Iza não questionou sua atitude, aquela passividade dela o aborrecia, e foi para o banheiro tomar um banho quente.
“Hoje vou mudar... vasculhar minhas gavetas... jogar no lixo sentimentos, tolices e ressentimentos tolos... limpar o armário e rever conceitos e velhas idéias, que habitam a minha mente, parar de sofrer por coisas pequenas... deixar de ser menino e me tornar homem... sair do sonho e viver a realidade...”
“Hoje a Íbis renasce das cinzas, deixando nas cinzas tudo aquilo que julgava importante, e que não era... honestidade, dignidade, gentileza, generosidade, amor ao próximo, respeito, honra... sonho... são apenas conceitos, que de nada valem. Só em Capela, no universo paralelo, onde tudo é perfeito... onde tudo é como gostaríamos que fosse. Esse mundo virtual, que todo mundo sabe que existe mas, ninguém sabe onde fica.” – pensou ele.
Depois de ficar perdido em pensamentos por alguns momentos, voltou a realidade e saiu para trabalhar.
Havia algo diferente acontecendo dentro dele... era algo como se uma energia obscura estivesse tomando conta do seu corpo... o colorido já não era tão intenso e o dia estava com um tom acinzentado, apesar do sol brilhante.
Ele caminhou pela multidão sem ver nenhum rosto... eram apenas vultos anônimos...
Algum tempo depois chegou no escritório de Venâncio. Caminhou determinado pelo corredor até chegar à porta do escritório, bateu insistentemente até ouvir uma voz dizendo: “um momento... já vou abrir!”
Venâncio abriu a porta um tanto assustado e disse em tom repressivo: - Puxa! Você quer derrubar a porta?
Entrou em silêncio e acomodou-se em uma poltrona, enquanto Venâncio fazia o mesmo. Ficaram se entreolhando por alguns momentos, até que Venâncio perguntou: - O que o traz aqui? Tem novidades?
Toni olhou fixo em seus olhos e disse secamente: - Preciso de dinheiro para custear uma viagem a Curitiba!
Venâncio sem questionar, lançou mão de um talão de cheques e perguntou: - Quanto? - Uns mil - Ele respondeu. - E ele imediatamente preencheu o cheque e o passou às suas mãos.
Levantou-se sem nada dizer, e saiu apressadamente em direção ao aeroporto.
Dirigiu-se ao balcão de vôos domésticos e perguntou se havia algum saindo em direção a Curitiba. A atendeste disse que haveria um saindo em uma hora. Pensou um instante e decidiu viajar sem bagagem alguma.
A atendente, muito atenciosa, perguntou se ele queria uma passagem, pois só restava um assento. Ele olhou para ela ainda um tanto indeciso e disse: - Sim, sim, quanto custa? - Duzentos e dezessete Reais e noventa centavos – ela respondeu.
Ele abriu a carteira, retirou três notas de cem Reais e comprou a passagem. Apanhou a passagem e o troco e dirigiu-se ao saguão de espera. E momentos depois embarcou.
Três horas mais tarde ele chegava em Curitiba.
Caminhou pelo aeroporto até sair deste, e deparou-se com uma cidade belíssima, ladeada por gramados e jardins bem cuidados, e acima de tudo, limpa, impecavelmente limpa. Abriu sua pasta de anotações e retirou um calhamaço de papel, onde estavam anotados dados da visita de Venâncio a Curitiba.
Ele precisaria trilhar os mesmos caminhos e encontrar a irmã de Suane.
Venâncio havia anotado minuciosamente endereços e telefones, que facilitariam bastante o seu trabalho.
Decidiu ir direto à casa da família da moça. Ficava no bairro Pinhais, mais precisamente na rua Sudão. Tomou um taxi e pediu ao motorista que o levasse ao endereço constante em um pedaço de papel. O motorista era um senhor muito branco, de cabelos já bastante grisalhos e muito gentil. Disse conhecer bem o bairro e que não ficava longe dali.
Cerca de dez minutos mais tarde, chegaram ao local indicado. Era uma casa rústica, de madeira, assemelhando-se a um chalé. Havia uma garagem na frente e um jardim do lado esquerdo. Toni observou que haviam algumas rosas vermelhas florindo no jardim.
Ficou parado diante da casa por alguns momentos, organizando o seu plano de ação, quando viu uma moça loura, alta e muito branca, aproximar-se. Percebeu logo tratar-se de Zéo, irmã de Suane. Venâncio havia feito uma descrição bem detalhada, e não restavam dúvidas.
Permaneceu em silêncio enquanto a bela jovem se aproximava, até que ficaram frente a frente, e ela perguntou com sotaque característico: - O Senhor deseja falar com o meu pai?
Toni demorou a responder, então disse: - Não... quer dizer, sim! Você é irmã de Neuza?
Ela vendo que ele estava atrapalhado, sorriu gentilmente e disse: - O Senhor não é daqui, o que quer com a minha irmã... ela não está! - Não, não... eu quero falar com você! Sou do Rio de Janeiro, me chamo Antônio Araújo de Freitas, e trabalho como detetive particular, e estou investigando o desaparecimento da sua irmã... - Zéo interrompeu dizendo: - Já esteve aqui um outro detetive fazendo perguntas... - Eu sei! – respondeu ele - É Venâncio, meu sócio. Mas as informações que ele colheu foram insatisfatórias, e como sou mais experiente, decidi vir pessoalmente.
Zéo abriu o portão, saiu, e disse: - Vamos procurar um lugar onde possamos conversar mais à vontade... não quero preocupar ainda mais aos meus pais.
O taxista estava esperando com o motor ligado, entraram no carro e foram para o centro da cidade.
Durante o trajeto, Toni perguntou a Zéo se conhecia um bom local onde pudesse hospedar-se. Ela disse haver bons hotéis próximos à rodoviária e deu instruções ao motorista para que os levasse lá.
Enquanto o taxista dirigia, Zéo mostrava-lhe os pontos atrativos da cidade, e logo chegaram ao hotel. Desceram do taxi e entraram no saguão do hotel. A recepcionista muito amável, perguntou: - Casal fumante ou não fumante?
Toni ficou embaraçado mas, atraído pela sugestão. Entretanto disse: - Solteiro, fumante!
A recepcionista passou às suas mãos uma ficha de admissão que preencheu imediatamente e o carregador apanhou sua pasta dizendo: - Acompanhe-me por favor!
Zéo e ele entraram no elevador e foram para o quarto. O carregador colocou sua pasta sobre uma mesa, passou as chaves às suas mãos e saiu.
Zéo e ele ficaram a sós no quarto, o que lhe causou um certo desconforto.
Zéo era uma mulher muito bonita e de certa forma mexia com ele. Mas eu não estava ali para isso.
Ao contrário dele, ela parecia bastante à vontade. Subitamente ela perguntou: - Onde está a sua bagagem? - Esta é toda a bagagem que tenho! - disse Toni secamente.
Sentaram-se junto a uma mesa localizada em uma ante sela adjacente ao quarto e começaram a conversar.
Toni pegou o telefone e pediu ao serviço de quarto para que trouxessem um bom café. Enquanto esperavam, perguntou a Zéo, quem era Claudier?
Zéo sorriu delicadamente e disse: - Claudier é o namorado da minha irmã. Mora aqui na cidade, é filho de uma família conceituada e trabalha como terapeuta... um ótimo rapaz... mas, o que tem ele?
Toni respirou profundamente e disse: - O nome dele aparece com freqüência nas anotações de Suane, assim como vários outros. Entretanto, Claudier parece ser especial. Por isso decidi vir até Curitiba investigar. O que parecia ser uma tarefa desagradável, está sendo até bastante gratificante.
Naquele momento Toni viu o rosto muito branco de Zéo ficar ruborizado. Por ser uma mulher inteligente, compreendeu de pronto o significado das suas palavras, e tomou-as como elogio.
Depois de um leve sorriso, Zéo disse: - Minha irmã é uma mulher inteligente, estudava pedagogia, até começar a fazer programas para pagar a faculdade. Entretanto, o que deveria ser temporário, virou rotina. E minha irmã sentiu o gostinho do dinheiro fácil e farto. Uma moça bem educada, inteligente e bonita, atrai a atenção dos homens, que muitas vezes, são bastante generosos. Entende? - Sim! - ele respondeu - Ela estava envolvida com um Coronel da Força Aérea lá no Rio de Janeiro. Encontrei o nome dele nas anotações de Suane, entre outros nomes. Sua irmã tinha o hábito de escrever anagramas formando nomes. Eu encontrei: Carvalho, Venâncio e Claudier. Este terceiro é o motivo de eu estar aqui. Você sabe se esse Claudier tem conhecimento do tipo de vida que sua irmã leva no Rio de Janeiro?
Zéo levantou os olhos como se buscasse respostas e disse: - Minha irmã já esteve em Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e até mesmo aqui em Curitiba, fazendo programas. No começo, ela manteve em segredo, mas recentemente, ela contou para o Claudier. No começo eles brigaram e ela prometeu que abandonaria essa vida mas, as contas começaram a chegar, e como faltava dinheiro, Neusa decidiu ir para o Rio de Janeiro. E o resto você já sabe.
Toni abriu a pasta que carregava, retirou algumas anotações e disse: - Eu não sei quase nada a respeito da sua irmã. Na verdade, entrei nessa história meio que por acaso. Mas gostaria sinceramente de desvendar esse mistério. Não é nem pelo dinheiro, mas pela emoção. E está a cada momento ficando cada vez mais interessante... eu acho que o Claudier tem os motivos para desaparecer com a namorada, assim como o Coronel Carvalho... - E o tal Venâncio? - Zéo perguntou.
Toni coçou o queixo por um momento e disse: - Venâncio está fora da lista de suspeitos. Afinal, foi ele quem contratou os meus serviços. - Esse Venâncio faz o que na vida? - Zéo novamente perguntou – Toni sorriu para ela achando graça da situação e respondeu: - Ele é detetive particular... - E você, também é detetive? - Não! – respondeu Toni - Mais ou menos... - Como assim? - ela perguntou - ele respirou fundo e disse: - Bem, eu conheci o Venâncio em 1978 na Força Aérea. Naquela época, ainda estávamos sob o regime da Ditadura, e as forças armadas mantinham grupos de militares bem treinados, nas mais diversas especialidades. E havia também um serviço de informações ramificado em quase todos os segmentos da sociedade. Esse grupo era denominado S.I.J. (Serviço de Informações e Justiça). Esse grupo tinha como finalidade, localizar militares insubordinados, agitadores, sindicalistas, estudantes... em fim, qualquer pessoa que se opusesse ao regime. E era desse grupo que eu fazia parte. Quero deixar bem claro que não me orgulho disso. Mas foi por ter feito parte desse grupo que fui convidado por Venâncio para ajudar a encontrar sua irmã. Entendeu?
Zéo levantou-se e caminhou pensativa pela sala, e disse: - Acho muito estranho um detetive contratar outro para localizar uma pessoa. Ainda mais alguém que não via há muitos anos. Isso parece uma demonstração de incompetência. Acho, sem querer me meter no seu trabalho, que você deveria colocar esse Venâncio na sua lista de suspeitos.
Terminada a frase, Zéo olhou para o relógio e disse: - Já é tarde, preciso ir. A noite darei uma passadinha aqui para conversarmos mais. Agora você precisa descansar um pouco... pense no que eu disse!
Levantou-se apressada, apanhou a bolsa que estava sobre a mesa e saiu batendo a porta atras de si.
Toni ficou observando a porta fechada por momentos, refletindo nas palavras da moça. Então, levantou-se preguiçosamente, caminhou até a cama e deixou seu corpo cair pesadamente sobre esta, e em poucos minutos estaria dormindo.
Algumas horas mais tarde acordou, já era noite e estava bastante frio. Olhou para o relógio e viu que já passava das dezenove horas. Logo um pensamento lhe ocorreu: “Zéo disse que passaria aqui à noite.” Caminhou apressado para o banheiro contíguo ao quarto e olhou-se no espelho. Estava com os cabelos desalinhados e o rosto amassado. Retirou toda a roupa e tomou um banho rápido, barbeou-se e vestiu uma roupa mais confortável para esperar Zéo, ou seja: a mesma roupa.
Não demorou muito e ela chegou. Estava linda... vestia uma blusa branca bastante transparente por baixo de um tailler azul marinho. O que conferia-lhe um ar sóbrio, elegante e sensual.
Toni teve a nítida impressão de que ela havia se produzido para impressiona-lo.
Zéo entrou senhora de si e perguntou: - Você conseguiu dormir? - Sim! – respondeu ele - Acabei de acordar...
Pensou no que lhe falei? - Sim! – respondeu pensativo - É uma possibilidade...
Vamos sair para jantar? – perguntou ela - Se você não se incomoda, prefiro jantar aqui mesmo! - ele disse - É mais aconchegante. E se aqui está frio, imagina lá fora!
Zéo sorriu como se aprovasse sua decisão e perguntou: - Onde vamos comer? - Não entendi a sua pergunta! - ele respondeu.
Ela sorriu compreensiva e disse sorrindo: - Eu queria saber se comeremos aqui no quarto ou no restaurante do hotel! - Nem uma coisa nem outra. - ele disse - Vamos dar uma volta pela cidade... - Está bem! - ela respondeu. E saíram.
A noite estava muito fria. Um vento gelado assolava as ruas de Curitiba. A cidade estava quase deserta. Apenas uns poucos jovens nos bares e choperias. Caminharam aleatoriamente pelas ruas bem iluminadas da cidade, até que o frio obrigou-os a entrar em uma loja de conveniência para abrigar-se.
Permaneceram ali por algum tempo e resolveram comprar uns sanduíches naturais e voltar para o quarto do hotel.
Mais tarde, depois de muita conversa, Toni foi vencido pelo cansaço e adormeceu. Zéo, sem que ele percebesse, fez a gentileza de cobri-lo com um espesso cobertor azul e saiu sem fazer barulho.
No dia seguinte foi despertado pela recepcionista comunicando que havia visita. Não precisou nem dizer quem era, pois ele já sabia de quem se tratava. E pediu para que a moça subisse.
Em instantes a campainha tocou e ele disse que a porta estava aberta. Zéo entrou sem cerimônia e sentou-se na ante sala, enquanto ele acabava de se vestir.
Zéo recebeu-o com um sorriso amável, e antes que ele dissesse algo, disse eufórica: - Vamos sair para conhecer a minha cidade... venha!
Toni foi pego de surpresa e não pode declinar do convite. Afinal, a companhia era muito agradável. Apanhou a carteira com os documentos e saíram.
Zéo havia tomado o carro do pai emprestado, um Fiat Uno muito bem conservado. Entraram no veículo e rodaram por horas.
Zéo parava nos pontos mais pitorescos da cidade e fazia comentários. Um clima de sensualidade insinuava-se entre os dois. E ele sentia-se imensamente atraído por aquela loura exuberante, culta, inteligente e terna.
A praça do Japão, na Avenida Sete de Setembro, no centro de Curitiba, parecia um pedacinho do Céu. Toni sentiu vontade de ficar ali para sempre. Mas logo sentiu um aperto no peito, pois teria que partir à noite. Ele nem havia saído e já sentia saudades.
Voltaram para o hotel e ficaram conversando horas, sentados na cama. Um desejo incontrolavel tomava conta de Toni. O ambiente era favorável... estavam os dois ali, na cama, em um quarto de hotel... Toni tentou beijar Zéo mas, ela delicadamente virou o rosto. Ele recuou rapidamente e perguntou: - Você me ajudaria a escrever um livro?
Zéo ficou sem entender nada e respondeu perplexa: - Sim, eu ajudo você! Mas sobre o que você quer escrever? - Uma espécie de auto-biografia com uma pitada de ficção - respondeu.
Zéo sorriu maliciosamente e ascentiu com a cabeça. Ela percebeu que aquela pergunta havia sido uma saida honrosa de uma situação constrangedora.
Toni levantou-se da cama e foi até o frigobar apanhar uma lata de refrigerante e dois compos. E enquanto enchia os copos, Zéo disse: - Você tem uma pressa descontrolada... sai atropelando tudo, não deixa as coisas acontecerem naturalmente! - Tenho os meus motivos... - ele respondeu - a cerca de ´vinte anos, procurei um médico para fazer uma inspeção regular de saúde; fiz todos os exames de rotina, inclusive uma tomografia, que acusou um aneurisma cerebral inoperável... é como uma bomba relógio, que pode explodir a qualquer momento. Ela já está armada há mais de vinte anos, e conforme a idade avança, o risco de ela estourar aumenta, entende? É uma contagem regressiva. Eu não sei quanto tempo de vida ainda me resta, por isso preciso fazer o que tenho que fazer agora, para não deixar assuntos pendentes. Eu procuro não pensar nisso e levar minha vida naturalmente mas, está lá, guardado no subconsciente. - É, você parece querer fazer tantas coisas ao mesmo tempo... - Zéo falou - mecânico, empresário, detetive particular, e até escritor! - Como eu disse... o tempo não é meu aliado – exclamou Toni - preciso fazer o máximo, na metade do tempo para não desperdiçar a minha existência! Mas não falemos mais nisso. Diga-me! O que pretende fazer quando se formar? - Dar aulas, é a minha paixão - Zéo falou orgulhosa - eu adoro esse ambiente de sala de aula, poder transferir o meu conhecimento para as novas gerações.
A noite já havia caído sem que ele se desse conta. Olhou pela janela do quarto e viu as luzes da cidade acenderem. Olhou para o relógio e viu surpreso que já eram quase vinte horas.
Zéo olhou para ele e perguntou: - O que foi? - Ele mostrou o relógio e disse: - Preciso arrumar minhas coisas e ir para a rodoviária, senão perderei o ônibus.
Toni apanhou os papeis que estavam sobre a mesa, colocou-os na pasta e pediu por telefone que fechassem sua conta no hotel. E desceram para a recepção.
Pagou a conta e seguiu em direção à rodoviária, acompanhado por Zéo.
Logo que chegaram, foi ao guiche de passagens e pediu uma para o Rio. A atendente disse que só havia um leito às 22:30. Zéo olhou para ele sorrindo e disse irônica: - Você tem mais sorte que juízo! - E como não havia nada a fazer, ficaram ali, esperando e conversando.
O tempo ao lado de Zéo parecia voar. Horas pareciam minutos. Ela era realmente uma mulher interessante.
Finalmente o ônibus chegou. E Toni dirigiu-se para a plataforma de embarque acompanhado por Zéo, e quando já ia embarcar, Zéo beijou-o, intensa e demoradamente. O beijo que deveria ter acontecido no hotel horas antes.
Toni sentiu vontade de adiar a viajem de volta mas, entrou no ônibus, e ficou olhando aquela bela mulher pela janela, e o ônibus partiu.
CAPÍTULO VII
- Você não tem mais tempo para mim, não me dá mais atenção, desde que se envolveu com esse tal Venâncio - disse Iza - Venâncio é um bom amigo – Toni respondeu - e graças a ele consegui encontrar prazer de viver. Eu estava levando uma vida medíocre ao seu lado. A sua inércia estava me contagiando. A vida não é feita somente de trabalho... precisamos todos das nossas compensações. Eu estive em Curitiba e encontrei uma mulher extraordinária. Alguém que me dava prazer, apenas por estar junto, mesmo sem sexo. Alguém que me ouvia e que falava comigo. Alguém a quem podia mostrar minhas fraquezas e virtudes, sem medo de ser censurado. Alguém que eu queria que fosse você... companheira, participativa, amiga... você é minha esposa, não minha mulher! Eu preciso de alguém que me desafie, e me impulsione para frente. Preciso de alguém que participe das minhas travessuras como companheira e não censora. Quero alguém que não tenha medo de me dizer a verdade, por dolorosa que seja, que compartilhe suas fantasias comigo e que participe das minhas, sem censurar e sem medo de ser censurada. Entendeu?
Iza limitou-se apenas a dizer: - Entendi! - e saiu da sala.
Toni permaneceu sentado em silêncio, aborrecido e entediado. Iza não o questionava: aceitava com passividade tudo o que ele dizia... parecia não ouvia as suas palavras... ela simplesmente as ignorava.
Toni tomou um banho e desceu para a oficina... a vida precisava continuar apesar de tudo. Os ajudantes já estavam cansados de o esperar e havia muito trabalho a fazer.
Ele manteve-se muito ocupado durante o dia, de tal forma que não pode pensar em nada, a não ser o trabalho.
Quando a noite chegou, ele estava exausto. Fechou a oficina e subiu para tomar um banho e relaxar. Foi quando viu-se surpreendido por Iza, que beijou-o calorosamente e disse: - Tenho algo a lhe dizer...
Toni olhou para ela surpreso e disse: - Diga, diga o que quer... não faça suspense!
Iza olhou para ele um tanto sem jeito e disse em voz baixa: - Eu não sei bem como começar... – Não faça rodeios – disse aflito Toni – vá direto ao assunto!
Iza estava visivelmente aflita; respirou profundamente e disse: - Não quero que você me interprete mal... – Você está me enrolando...- interrompeu Toni ansioso – Tá bom! Vamos lá: eu tenho consciência de que o nosso relacionamento não anda bem, e sei dos esforços que você tem feito para salvar o nosso casamento. Estamos numa fase de estagnação, monotonia e tédio. Tudo isso causado pelas atribulações do dia-a-dia... – Prossiga – disse Toni – Você é um homem maravilhoso em todos os sentidos mas, eu menti. Menti por vergonha, menti por não compreender que você é alguém diferente, que pensa diferente. Na verdade, eu tenho uma fantasia sexual secreta, que eu procurava manter adormecida por não compreender você.
Toni fez cara de “até que em fim”, e gesticulou, indicando que Iza prosseguisse. Então, Iza disse: - Já faz tempo que sinto um enorme desejo de fazer sexo com um homem negro, apenas por curiosidade. Eu sei que tenho sido negligente com você nos últimos anos. Talvez por me sentir segura e realizada: tenho dois filhos e um marido maravilhosos, tenho minha casa com todos os confortos necessários e certo conforto financeiro... sei que tenho sido egoísta, pois o que é o máximo para mim, é pouco para você. Talvez, por estar bom para mim, eu não tenha me perguntado se estava bom para você. Portanto, vamos nos organizar, e enveredar nessa aventura sexual, certo? – Você já tem alguém em vista? – Sim, existem duas possibilidades.
Toni permaneceu em silêncio por uns instantes, enquanto Iza arrumava os cabelos. Então perguntou: - Em quem você está pensando? – Ainda é cedo para responder – Iza respondeu.
Toni levantou-se conformado e disse: - Está bem... deixarei por sua conta. – e saiu.
Algumas horas mais tarde, Toni estava parado em frente ao prédio onde fica o escritório de Venâncio. Permanecendo ali, parado, absorto em pensamentos, até que decidiu entrar. Caminhou até o elevador e parou no sexto andar, onde ficava o escritório de Venâncio. Caminhou alguns metros e bateu na grossa porta de madeira sólida. – Já estou indo – alguém respondeu, e ouviu-se passos lentos em direção a porta.
Ao abrir a porta, Venâncio abriu um largo sorriso e convidou Toni a entrar, indicando sua cadeira predileta e indo em direção ao bar, para servi-lo de uma bebida. Então, perguntou: - Como foi a sua viajem a Curitiba? – Sem muito sucesso... – Como assim, não encontrou a moça? – Encontrei. E por falar nisso, a sua descrição dela não faz jús nem de longe. A moça é belíssima, meiga, mas de uma força interior impressionante... – Ficou caído por ela... – disse Venâncio, e irrompeu em estridente gargalhada.
Toni bebeu um generoso gole do uísque e disse sorrindo: - Confesso que fiquei balançado... mas não gosto de misturar vida pessoal com negócios. – Você leva a vida muito a sério Toni... precisa relaxar de vez em quando. Precisa Ter momentos de completa irresponsabilidade, caro amigo. – Eu não gosto de usar as pessoas. Ainda mais as pessoas de bem, como ela. – Está bem... não vamos fazer disso um drama. Diga-me, conte tudo o que descobriu! – Nada de importante. Apenas acrescentei mais um na minha lista de suspeitos. – Oh, isso é muito bom! Quem é?
Toni manteve-se em silêncio, enigmáticos, por alguns momentos, e disse: - No momento certo, você saberá. – Fazendo mistério para mim? – Não é mistério. Estou apenas preservando pessoas, e não quero que uma suspeita infundada atrapalhe o curso das investigações. – É o tal Claudier?
Toni sorveu um gole de bebida e permaneceu em silêncio.
- Tá bom! Vejo que não vou arrancar nada de você... tudo bem... não vou ficar aborrecido. Que tal Curitiba? – É uma cidade perfeita, um povo educado e civilizado. – Você está sucinto demais para o meu gosto. O que você acha da atual fase do Flamengo? – Eu odeio puerilidades como o futebol. Eu não consigo compreender como o torcedor, um ser “racional”, pode entrar num estado de demência, onde ele acredita que o seu time é o melhor do mundo, mesmo que este time jogue somente contra um goleiro, com um árbitro roubando, faça um gol de impedimento e ainda de mão, mesmo assim, o torcedor acredita que o seu time seja o melhor do mundo. O meu intelecto não pode conceber tal histeria coletiva. Sinto muito, caro amigo... vamos mudar de assunto? – Caramba, hoje não dei uma dentro! – Tem dias que a gente acorda meio abestalhado. Não se preocupe, isso passa.
Toni bebeu o resto da bebida e colocou o copo sobre a mesa, respirou profundamente, e disse em tom imperativo: - Vamos terminar com esse festival de besteiras e começar a falar a sério. Eu ainda não estou convencido dessa coincidência de Ter-mos nos reencontrado após todos esses anos. Não estou convencido dos seus reais motivos para me contratar... – Eu contratei você por que você é o melhor – Quem lhe disse que sou o melhor? – Você fez história caro amigo, você fez história... – Muito do que ouviu falar não passa de história inventada... – Mas há muito de verdade. O Coronel Correia era um cara durão, chefe da DOPS, e você era o homem de confiança dela, não é verdade? – Sim, mas, o Coronel está morto... faz parte de um passado distante. Pare de enrolar, e diga logo qual era o seu verdadeiro relacionamento com a moça!
Venâncio ficou em silêncio, saiu de traz da mesa, caminhou pela sala e sentou-se em uma poltrona em frente a de Toni. Sorveu o último gole de bebida, e disse: - Está bem... quer mesmo saber a verdade? – Estou aqui para isso. – Eu estava apaixonado por ela. – Isso eu já sabia... – Como sabia? – Você não disse que sou o melhor... – Claro, que tolo eu sou! Tava na cara. – Vamos Venâncio, conte-me tudo!
Venâncio recostou-se na poltrona, cruzou as pernas, e enquanto virava-se para o lado para servir-se de outra dose de uísque, disse: - Eu conheci a Suane quase que por acaso. Logo estabeleceu-se entre nós uma empatia. Ficamos amigos e começamos a sair juntos. Primeiro para boates, discotecas, teatros, restaurantes e depois para motéis... – Prossiga! – Nós nos completávamos de tal forma que eu até esquecia que ela era prostituta, de luxo mas, prostituta... – Continue! – Certo dia, pedi a ela que deixasse de ser garota de programa, e ficasse somente comigo, e sabe o que aconteceu: ela riu na minha cara.
Venâncio levantou-se um tanto atordoado e caminhou até a janela com o copo na mão esquerda e a direita no bolso da calça. Deu uma olhada na rua, virou-se para Toni, e falou com a voz embargada: - Ela disse que eu era negro, e que a família dela jamais me aceitaria... veja o absurdo: uma prostituta dizendo que a família jamais aceitaria um negro... – Sente-se e acalme-se!
Venâncio bateu forte o copo sobre a mesa, e elevando o tom da voz, disse: - Pode uma coisa dessas? – Pode! O racismo ainda está muito presente em nosso país. – Um país de negros... – e sentou-se pesadamente em uma cadeira.
Os pensamentos começavam a fervilhar na mente de Toni. Rejeição, discriminação e indiferença, eram motivos mais do que suficientes para matar. Porém, não poderia tirar conclusões precipitadas.
Haviam muitas pontas soltas naquele caso, e uma delas era o fato de Venâncio tê-lo contratado. Ou ele estava subestimando a capacidade e inteligência de Toni, ou realmente queria solucionar o desaparecimentos da moça. Toni não sabia o que pensar. Então, caminhou até Venâncio, deu-lhe um tapinha no ombro e disse em voz baixa: - Você está muito nervoso... é uma atitude bastante compreensível... um homem apaixonado, tem razões que até a própria razão desconhece.
Venâncio pareceu não compreender bem o significado das palavras de Toni. Limitou-se apenas a acenar com a cabeça.
Toni caminhou até a mesa, apanhou sua pasta de anotações e despediu-se de Venâncio, prometendo mantê-lo informado.
Logo que saiu do prédio, Toni pensou: “então, aquele safado estava apaixonado pela moça...”
CAPÍTULO VIII
- Estou pronta! – disse Iza – Não entendi! O que foi que você disse? – perguntou Toni desatento – Eu disse, estou pronta... – Pronta para que? – Você já esqueceu o que conversamos? – Nós conversamos sobre tantos assuntos... – Aquele assunto... da fantasia... – Ah, sim! O que pretende fazer? – Eu elaborei um plano, e pretendo pô-lo em prática.
Toni abriu um sorriso de satisfação e perguntou: - Posso saber quem é o candidato? – Por enquanto não, para não causar ansiedade. Deixe eu dar início ao plano, se der certo, eu te conto. – Faça como quiser. – disse Toni conformado.
Toni tentava não demonstrar muita ansiedade. Entrou no banheiro para tomar um banho e vestir-se para sair.
Iza permaneceu no quarto deitada, e quando Toni saiu do banheiro, perguntou: - Vai sair? – Sim! Pretendo ir a Ipanema, pressionar um pouco o porteiro Roberto. – Você vai acabar se metendo em encrenca! – Eu sei me cuidar. – deu um beijo em Iza e saiu apressado.
Durante o caminho de ida para Ipanema, Toni pensou: “acho que deveria ter demonstrado mais interesse...” subitamente, Toni é parado por uma blitz da PM. O soldado da Polícia Militar aproximou-se, e sem cerimônia disse: - Documento!
Toni ia abrir o porta-luvas para apanhar os documentos, quando o soldado sacou a pistola e disse em tom arrogante: - Cuidado meliante, vê lá o que vai tirar desse porta-luvas!
Toni percebendo o total despreparo do policial, tentou acalmá-lo dizendo: - Calma! Vou apenas pegar a carteira com os documentos.
O policial examinou cuidadosamente os documentos de Toni e do carro, e como não encontrou nenhuma irregularidade, disse em tom imperativo: - Desce do carro, meliante, que a gente vamo dá uma geral!
Toni obedeceu prontamente a ordem do soldado e saltou do veículo, enquanto o soldado revistava o seu carro. Mas como não encontrou nenhuma irregularidade, o soldado virou-se para Toni e sem a menor cerimônia, disse: - Bota uma nota de 50 Reais aí em cima do banco, que senão a gente acaba encontrando alguma coisa errada no seu carro! – e sorriu, olhando para os outros PMs.
Toni ficou indignado, porém, como todo bom detetive, antes de sair do carro, acionou um equipamento de gravação, composto de: gravador e micro-câmera.
Toni abriu a carteira e negociou a propina com o policial, para caracterizar ainda mais a extorsão. E tudo ficou por 10 Reais. E Toni seguiu viajem. E cerca de quinze minutos mais tarde, Toni chegava ao seu destino.
Assim que Toni chegou, foi avistado de longe pelo porteiro Roberto, que acenou da portaria do edifício.
Toni caminhou até ele e fingindo uma feliz coincidência, cumprimentou amistosamente o porteiro, que sorridente disse: - O senhor não morre tão cedo... ainda hoje pensei no senhor. – Ora, que coincidência. Eu ia visitar um amigo que mora aqui no bairro e pensei: vou fazer uma visita ao meu amigo Roberto. – Assim o senhor me deixa sem graça. – Não fique assim! É a pura verdade. – E como vai o caso do desaparecimento da Dona Suane? – Se arrastando, Roberto, se arrastando. – O senhor chega lá. – Gostaria de ter a sua certeza Roberto.
Os dois entraram no prédio e Roberto convidou Toni a sentar-se em um sofá, enquanto pedia a sua esposa para preparar um café. Então Toni disse: - O senhor bem que podia me ajudar! – É só dizer como senhor Toni.
Toni pensou por um momento, levantou-se, colocou a mão no queixo e disse: - Se o senhor desse um jeito de eu entrar no apartamento da moça, talvez eu pudesse encontrar algo... – Não me peça isso senhor Toni, não me peça isso! – Porque eu não pediria Roberto? – Porque eu posso deixar o senhor entrar no apartamento... – e deu uma estridente gargalhada.
Toni sentou-se novamente no sofá e perguntou, como se não estivesse acreditando nos seus ouvidos: - O senhor conseguiria mesmo? – Claro, senhor Toni, mas precisamos tomar cuidado. – Vamos lá então! – Calma senhor Toni, as coisas não podem ser desse jeito. Eu antes preciso pegar as chaves do apartamento com o síndico. Eu aviso o senhor quando tiver conseguido.
Toni sentiu-se um tanto decepcionado. Entretanto, uma nova possibilidade vislumbrava-se à sua frente. Então levantou-se, caminhou pela sala com passos lentos e a mão no bolso, e perguntou: - Verdadeiramente, o que o senhor sabe sobre Suane? – Eu já contei tudo à polícia. – Aquela é uma história ensaiada. Eu quero saber o seu ponto de vista... os porteiros sabem melhor da vida dos moradores que eles próprios. – Tá bom, senhor Toni! Eu vou contar: da maneira que eu vejo, muitas pessoas teriam motivos para fazer a moça desaparecer. Desde mulheres enciumadas, clientes, funcionários do prédio e toda a sorte de pessoas. – Você disse empregados do prédio? – Isso mesmo. – Mas Suane era uma prostituta de luxo... – Mas tinha os seus momentos de filantropia... – Toni irrompeu em estridente gargalhada, pela maneira engraçada como o porteiro havia falado.
Passados alguns minutos, Toni acendeu um cigarro, e com um sorriso malicioso, perguntou: - E essa filantropia... estendia-se a você? – Quem me dera, senhor Toni, quem me dera. A Suane pagava a minha esposa para fazer faxina duas vezes por semana no apartamento, e de certa forma, eram até amigas, entende? – Claro, claro. Mas quanto aos outros empregados do prédio? – Bem, certeza mesmo, eu não tenho, mas ouvi várias vezes os faxineiros comentando suas visitas ao apartamento da moça. Até os detalhes mais sórdidos. – Detalhes sórdidos... o que quer dizer? – Segundo eu soube, a moça era uma dominadora. Fazia coisas... – Que coisas? – Pompo... pompo... a sei lá! – Você quer dizer, pompoarismo. – Isso mesmo. E tem mais: ela vestia umas roupas esquisitas e usava um chicote. – Entendo. – O que é esse negócio aí que o senhor falou? – Pompoarismo? – É, isso mesmo!
Toni parou por um momento para organizar os pensamentos, e achar a melhor maneira para explicar ao porteiro o que era pompoarismo, e então disse: - Bem, Roberto: algumas mulheres exercitam os músculos internos da vagina, você sabe o que é não? – Sei! É o mesmo que B... – Isso mesmo! Como eu ia dizendo, elas exercitam esses músculos, tornando-os mais fortes, e com um pouco de prática, elas fazem movimentos de contração. O que dá muito prazer aos seus parceiros, entendeu? – É como se mordesse o ... – Isso mesmo! – Então, é por isso que os caras ficavam loucos quando tranzavam com ela... – É, Roberto, mulheres assim são raras.
- Agora vamos falar sério – disse Toni – gostaria que você me falasse sobre os hábitos da Suane. – Tá bom! – era um vício de linguagem do porteiro – Suane era muito generosa e educada, apesar da “profissão” que exercia. Ela cumprimentava a todos os empregados do prédio, sempre com um sorriso. E dava, eventualmente, generosas gorjetas. A maneira doce, despertava inveja nas mulheres mal-amadas do prédio, e insegurança também. Alguns homens usavam termos pejorativos quando referiam-se a ela. Entretanto, alguns deles freqüentavam o apartamento da moça. O doutor Paulo Henrique mesmo, referia-se a ela como: “aquela puta”, mas desfrutava dos favores da moça. – Esse Paulo Henrique, quem é? – Morador do quarto andar, vizinho da Suane. – Eles tinham um caso? – Não! Ela tinha caso com um Coronel da Aeronáutica, segundo eu sei. – E quem mais? – Havia também um homem alto, mulato, que estava sempre vestido com um terno preto... – Sei de quem se trata. – Ele parecia gostar muito da Suane mas, freqüentemente eles discutiam alto... – Como assim? – O senhor sabe como é: bastava elevar um pouquinho da voz, que uma vizinha ligava para a portaria para reclamar... – Entendo. E o senhor chegou a falar com esse homem de negro? – Não! Ele entrava sempre pela garagem. – Como assim? – Suane não tinha carro mas, tinha vaga de garagem. Sendo assim, ela permitia que o cara usasse a vaga dela. Talvez, ele não quisesse ser visto. – Provavelmente. E o Coronel? – O que tem ele? – Diga-me como ele era! – Era educado, mas de poucas palavras, e bastante generoso com a Suane também. – O que quer dizer com generoso? – O senhor sabe... os homens mais velhos têm a tendência de ser mais generosos. – Como você sabe disso, Suane contou a você? – Não, pelas correspondências que passam pelas mãos do velho porteiro, entende? – Mais ou menos. O senhor violou algumas das correspondências? – Eu não diria que violei... dei apenas uma olhadinha curiosa... entendeu? – Violar correspondência é crime, sabia? – Como eu disse, não violei. Com o desaparecimento da moça, achei que talvez pudesse encontrar algo que indicasse o paradeiro dela, entende? – Entendi! E você encontrou algo de interessante nessas correspondências? – Eu não sei! – Como não sabe, você não sabe ler? – Sei sim senhor Toni. Eu só não sei da importância... eu encontrei um recibo da compra de um colar de uma joalharia famosa daqui de Ipanema, em nome de Reginaldo G. Carvalho. – O Coronel! – Isso mesmo. Ele também pagava o aluguel do apartamento e o condomínio.
Toni ficou em silêncio, em atitude contemplativa por alguns momentos. Então, perguntou: - Então o Coronel pagava todas as contas da Suane? – Todas não! As contas de água, luz e telefone, eram sempre pagas em dinheiro... – Da Suane? – Não sei! Talvez sim, talvez não. – Você sabe dizer se o Coronel e o homem de negro se conheciam? – Não sei dizer, senhor Toni! – E onde está esse colar? Parece que nada de valor foi encontrado no apartamento! – Talvez esteja guardado em um cofre em algum banco, ou tenha sido roubado. Eu não sei!
Toni olhou para o relógio e disse: - Caro amigo Roberto, o nosso papo está muito agradável mas, preciso ir- Mas o senhor nem tomou o café! – Fica para outra vez... eu preciso mesmo ir. Tente apressar aquela situação, pois é indispensável a minha visita naquele apartamento. Estarei aguardando ansiosamente um telefonema seu... até mais ver.
Toni saiu do prédio feliz da vida. Sua visita havia sido mais proveitosa que esperava. Agora ele tinha no que se agarrar para tentar encerrar aquele caso. E como estava em Ipanema, a menos de cinco minutos do prédio onde morava o Coronel, resolveu fazer-lhe uma visita surpresa.
Em poucos minutos Toni estava estacionando seu carro nas proximidades da residência do Coronel Carvalho.
Ele parou em baixo de uma amendoeira, de maneira estratégica, de modo que pudesse ver o ônibus azul marinho colocar o seu “ovo” mais ilustre. E permaneceu ali por quase duas horas, até que finalmente, o “ovo” chegou.
Toni desceu rapidamente do seu carro e abordou o Coronel, no momento que chegava à portaria. E logo que o Coronel o avistou, tentou evadir-se, apressando o passo.
Toni, percebendo que o Coronel tentava fugir, levantou a jaqueta, exibindo uma arma, e disse: - Não precisa correr, Coronel! Precisamos ter uma conversa amigável.
O Coronel ao ver a arma, parou imediatamente e olhou para o porteiro, na esperança de que este viesse em seu socorro. Entretanto, o porteiro estava acionando o controle remoto para abrir o portão da garagem, para a entrada de outro morador. Então o Coronel falou em voz alta, na vã esperança de chamar a atenção de alguém: - Eu não tenho nada para falar com você! – Tem sim, Coronel... nós temos muito o que conversar. Eu não tenho nada contra o senhor... ainda. Não é nada pessoal... estou apenas fazendo o meu trabalho. – Está bem, vamos entrar! – e os dois caminharam juntos em direção do elevador.
Quando chegaram ao apartamento, o Coronel conduziu Toni a um escritório contíguo a sala, fechou uma enorme porta de duas bandeira atras de si, e sentou-se atras de uma mesa enorme e muito antiga. Toni permaneceu de pé, pois o Coronel não fez a gentileza de convidá-lo a sentar-se. E então ordenou, exibindo novamente a sua arma: - Mantenha as duas mãos sobre a mesa, Coronel... eu não gosto de surpresas! – Você acha que vou tirar alguma arma de dentro da gaveta? Eu não sou marginal... não preciso andar armado. – Deixe de ironias, Coronel e vamos ao que interessa. – O que ou quanto, você quer de mim? – Não subestime minha paciência, Coronel! Eu não quero o seu dinheiro. Quero apenas a sua colaboração.
O Coronel apanhou um talão de cheques que estava sobre a mesa, e perguntou: - Quanto? – Toni caminhou até ele, apanhou o talão de cheques que estava sobre a mesa e o rasgou, dizendo: - Olha o quanto vale o seu dinheiro. Não há dinheiro que pague esse momento: ver alguém como você, indefeso, tremendo na base, com o rabo preso, é único, impagável... – Deixe de gracinhas e diga logo o que quer! – Quero que diga onde está Suane! – Eu não conheço esta pessoa... – Não faça gracinhas o senhor, Coronel! Eu tenho provas do seu envolvimento com a moça... – O que você sabe? – Tudo, ou quase tudo. Tenho recibos de pagamento de aluguéis, condomínio e também da compra de um colar de esmeraldas, muito valioso por sinal. Sua esposa sabe dessas suas despesas extras, Coronel? – Não envolva minha família nisso, seu canalha... – Canalha, eu? Ora, Coronel... se existe um canalha nessa história, não sou eu. – Vou perguntar novamente: o que você quer? – Uma resposta: onde está Suane?
Naquele momento, Toni percebeu que os olhos do Coronel marejaram, e ficaram vermelhos. Então, Toni sentou-se numa cadeira e disse com a voz branda: - Coronel, eu não sou seu inimigo, muito pelo contrário. E se o senhor não for o culpado, o que eu acredito não seja; ajude-me!
O Coronel levantou-se e caminhou pela sala. Era uma sala decorada com mobília antiga, de madeira escura e pesada, e como não poderia faltar, motivos inerentes a aviação: aviões, maquetes, flâmulas e símbolos. Então ele disse: - Como é mesmo o seu nome? – Toni! – Toni, eu amava aquela mulher... faria tudo por ela, faria tudo para vê-la feliz... eu, jamais lhe faria nenhum mal, quanto mais, matá-la... – Talvez, ciúmes! – Sim, eu sentia ciúmes. Era muitos anos mais nova que eu. Mas, desaparecer com ela. Fique certo, senhor Toni, que ninguém está sofrendo mais com o desaparecimento dela que eu.
Aquele relato, mexeu com os sentimentos reprimidos do Coronel, e as lágrimas não tardaram a rolar nas suas faces.
Toni, ouvia a tudo em silêncio, até que explodiu em frenético rompante: - Coronel, ou o senhor é o maior mentiroso que conheço, ou está falando a verdade... – Eu estou falando a verdade... – O que o senhor sabe sobre os relacionamentos de Suane? – Nada! Eu fazia questão de não tomar conhecimento... doía menos, entende? – Sim, entendo.
Bem, Coronel... – disse Toni – vou deixá-lo em paz por enquanto... desculpe pelas minhas maneiras grosseiras... até uma próxima vez. Não me acompanhe! Eu conheço a saída. – e saiu.
Toni foi para casa satisfeito por ver um homem poderoso como o Coronel, tremer, mas ficou com a impressão de que ele falava a verdade. E de certa forma, decepcionado também, pois sentiria imenso prazer em levar o Coronel ao banco dos réus. Entretanto, como não se pode ter tudo, dava-se por satisfeito.
Toni tivera um dia cheio. Nem se deu conta de que havia um assunto inacabado com sua esposa. E logo que entrou em casa, Iza o recebeu com um beijo e perguntou: - Pensou no assunto? – Que assunto? – No que conversamos pela manhã! – Desculpe, querido. Que cabeça essa minha... claro! - O que você resolveu? – Vou a um bar com uma pessoa beber umas cervejas, e ver que bicho dá! Lá pelas oito e meia eu saio, o.k.? – Está bem!
Toni sentiu um tremor nas mãos e o coração acelerar, seguido de uma sensação de calor intenso por todo o rosto e pescoço, que tentou disfarçar.
Era uma sensação de excitação e ansiedade tão intensa, como jamais havia sentido antes. A adrenalina estava em níveis altíssimos, e Toni sentiu desejo de tranzar com Iza. Mas, como já estava quase na hora dela sair, conteve o seu desejo. Enquanto Iza preparava-se impecavelmente para o seu encontro.
Ele estava confuso: sentia um misto de ciúmes e excitação. Algo que não podia compreender, mas era agradável, muito agradável.
Toni ficou em silêncio, observando Iza dar os últimos retoques na maquiagem. Até que quando estava pronta, colocou-se em frente a ele e perguntou: - Estou bem? – Está linda... – Já vou indo... deseje-me boa sorte! – e ela o beijou com ternura e saiu.
Iza caminhou até a rua e tomou um taxi. Enquanto ele a observava desorientado.
Toni jamais experimentara tantas sensações ao mesmo tempo: primeiro arrependimento, ciúmes, preocupação e muito tezão. Os pensamentos fervilhavam... parecia que as horas não passavam, e a curiosidade ficava cada vez mais aguçada.
A sensação de não saber o que estava acontecendo, deixava-o inquieto e ansioso. Então, Toni lançou mão do telefone e ligou para o celular de Iza. Que o atendeu imediatamente: - Alo – Está tudo bem? – Tá tranqüilo – Já rolou? – Não, não, hoje não! Mas as coisas estão se encaminhando. – Como assim? – Quando eu chegar em casa, conversaremos! – e desligou o celular.
Toni estava explodindo de curiosidade, pois era um homem acostumado a ter o controle da situação. E tudo que fugia-lhe ao controle, causava enorme ansiedade.
Passadas quase três horas, finalmente Iza chegou. Caminhou lenta e sorridente em direção a Tony. Aproximou-se cautelosa e o beijou.
Ele permaneceu em silencio esperando que ela iniciasse a conversa, mas ela permaneceu silenciosa e enigmática. Então Tony perguntou: - E aí, como foi? – tudo bem! – respondeu Iza – é só o que tens a dizer? – calma, deixa eu respirar – disse ela e ficou em silencio por momentos, enquanto Tony tentava conter sua ansiedade acendendo um cigarro.
Então, Iza disse: - Foi tudo bem. As coisas estão bem encaminhadas. Fomos a um bar, tomamos algumas cervejas e jogamos até sinuca. – Eu nunca soube que você gostasse de sinuca. – disse Tony admirado – Pois é, existem muitas coisas que você não sabe a meu respeito. Mas isso não é importante agora. Quando terminamos a partida de sinuca, nos afastamos da mesa, caminhamos até a porta do bar, sentamos em uma mesa e ele me convidou para voltar amanhã para conversarmos. Hoje, estávamos acompanhados de outro casal e não havia clima para uma conversa mais íntima. – Quem era o outro casal? – perguntou Tony ansioso – A Cristina e o Luis. – respondeu ela.
Tony permaneceu em silencio por instantes e então perguntou: - Quer dizer que não rolou nada? – Como não rolou? O primeiro passo foi dado. Ou você acha que as coisas acontecem assim? Amanhã tudo se resolverá... tenhas paciência! – E como você está se sentindo? – perguntou Tony – Estou bem! Eu não crio expectativas. Espero acontecer. E você, estais satisfeito? – perguntou ela – Posso dizer que sim. Se bem que eu esperava mais... – Amanhã, amanhã tudo se resolve. Vou tomar um banho... estou muito suada e com sono... você vem? – Não, vou ficar aqui mais um pouco.
Iza levantou-se, passou as mãos nos cabelos de Tony e disse sorridente: - Menino apressado! – e dirigiu-se ao banheiro. Enquanto Tony permanecia ali, sentado na varanda.
Tony refletiu minuciosamente sobre tudo o que estava para acontecer. Havia um conflito entre o racional e o emocional. Um dizia que toda àquela situação era absurda, sórdida e imoral. O outro, fazia-lhe o coração acelerar e o sangue correr nas veias e proporcionava-lhe uma excitação jamais experimentada.
Tony passou a noite avaliando os prós e contras, até que adormeceu, ali, na cadeira da varanda. Até que os primeiros raios de sol o despertaram pela manhã.
Ele abriu os olhos ainda sonolentos, olhou para o relógio e foi para o banheiro tomar um banho para acabar de acordar. Enquanto no chuveiro, continuava pensando sobre o assunto e constatou que não havia tomado nenhuma decisão.
Mais tarde, já no trabalho, lampejos vinham a mente dele, que tratava logo de afastar tais pensamentos e concentrar-se no trabalho. Mas com o cair da tarde, os pensamentos começaram a ficar mais fortes. A hora estava próxima. Não havia mais concentração... ele já não conseguia mais trabalhar e decidiu fechar a oficina mais cedo. Dispensou os empregados e foi para casa.
Quando chegou em casa, notou que Iza não estava. Tomou um longo banho quente, vestiu uma roupa confortável e preparou-se para esperá-la. Sentou-se na cadeira da varanda, apanhou o jornal que não havia tido tempo para ler e começou a folhea-lo.
Enquanto lia o jornal, uma manchete que noticiava o desaparecimento de uma jovem, chamou a atenção de Tony. Que imediatamente começou a pensar no caso Suane. Colocou o jornal de lado e repassou mentalmente todas as informações que tinha sobre o caso. Ele tinha a nítida impressão de que alguma coisa não se encaixava. Pensou no Coronel Carvalho, que era um militar austero, e pensou também como não gostava de militares, mas tinha a impressão de que aquele homem era inocente. Apesar de não gostar dele.
“A Sheila sabe mais do que me contou” – pensou ele – “talvez, se eu apertá-la direitinho, ela cante a canção que quero ouvir. As duas moraram juntas por muito tempo e não acredito que dividissem apenas o apartamento. Certamente, dividiam confidências.” Nesse momento, chega Iza. Tony surpreende-se ao vê-la. Está com os cabelos tingidos e bem tratados. Uma leve sombra nos olhos e um leve blush. Ela cainha até ele e pergunta sorridente: - Gostou? – ele olha de cima em beixo e diz: - Você está maravilhosa! Onde esteve até agora? – Fui ao salão de beleza dar um trato no visual. Fiz o cabelo, depilação e manicure. – Toni sentiu uma pontinha de ciúmes, pois sabia que aquela preparação toda não era para ele. Mas conteve-se e ironicamente perguntou: - Alguma ocasião especial? – Iza colocou as mãos na cintura e disse: - Você já esqueceu que hoje é o grande dia? – Ele fez cara de desentendido e disse fingindo ter esquecido: - A sim, você se refere ao... – Isso mesmo – Disse ela – Preciso me apresentar bem, não achas? – Claro que sim! – Acompanhe-me até o quarto para ver o resto – Disse ela. E os dois caminharam juntos em direção do quarto.
Quando chegaram ao quarto, Iza disse: - Feche a porta!
Toni fechou a porta atrás de si, enquanto Iza despia-se, até ficar completamente nua.
Ele ficou observando o espetáculo e observou que Iza havia depilado quase que por completo a região pélvica, deixando apenas um tufo de pelos no centro, que lembrava o formato de uma taturana. Notou também que sua pele estava com um brilho especial.
Iza fez um breve desfile, virando-se em várias posições, para a apreciação dele e perguntou novamente: - Gostou?
Ele permaneceu em silencio. Jamais a vira dedicar-se tanto como naquela ocasião.
Continuou olhando enquanto ela abria uma gaveta e retirava uma embalagem plástica que continha uma calcinha de renda amarela. Que vestiu logo a seguir. Depois, vestiu uma mini-saia Jeans e uma blusa também amarela. Calçou uma sandália alta e disse: - Estou pronta... o que achas?
Toni sentia vontade de detê-la. Dizer que tudo aquilo era um engano, mas sabia que se fizesse isso, Iza jamais o faria novamente, caso ele mudasse de opinião. Então, deixou-a prosseguir.
Iza deu os últimos retoques, olhou-se no espelho e quando pareceu estar satisfeita com o que viu, disse: - Estou indo... deseje-me boa sorte! – Claro que sim, querida – disse ele – Não desligue o celular. Qualquer coisa de errado, me liga.
Iza beijou-o rapidamente e saiu. Tomando um táxi a seguir.
Toni estava indeciso. Não sabia se havia tomado a decisão certa. Um sentimento de insegurança tomou conta dele. Segurava o celular e olhava-o, querendo ligar para ela e cancelar tudo, mas o desejo de realizar aquela fantasia era maior e ele conteve seu impulso. Sentou-se na cadeira da varanda, acendeu um cigarro e procurou acalmar-se. Olhou as horas no visor do celular. Eram 18:30.
Ele tentava desviar o pensamento para outros assuntos de seu interesse. Entretanto, a imagem de Iza com outro homem, não saía-lhe da mente. E olhava a todo momento para o celular, verificando as horas. E pensava: “o que será que estão fazendo agora... provavelmente ainda estão conversando... ou será que já estão no quarto?”
Já haviam se passado quase duas horas que Iza havia saído.
Ele já não agüentava mais de ansiedade e resolveu ligar. Pegou o celular com um leve tremor nas mãos e discou. O celular chamou, chamou, até cair na caixa postal. E Iza não o atendeu. A apreensão de Toni aumentou ainda mais e decidiu ligar novamente.
Desta vez, Iza atendeu ao telefone. E Toni perguntou: - E aí, já rolou? – Está tranqüilo – respondeu ela – Eu não compreendi. Já rolou ou não? – perguntou novamente ansioso – Já, ta rolando... eu não vou demorar... – e Iza desligou o telefone.
Toni sentiu um tom estranho na voz de Iza. Ele não havia compreendido bem o que ela quis dizer. Pensou em ligar novamente, mas conteve sua ansiedade. E ficou esperando. Fumando um cigarro após outro.
Cerca de maia hora mais tarde, Iza chegou. Toni levantou-se apressado e foi recebe-la na escadaria. E foi logo perguntando: - Está tudo bem? – Calma... deixa eu acabar de chegar! – Disse ela. Enquanto caminhavam em direção da varanda.
Iza sentou-se em uma das cadeiras como se estivesse cansada e perguntou: - O que você quer saber? – Se foi tudo bem – Respondeu ele. Então, Iza respirou fundo e disse: - Mais ou menos... – Como mais ou menos? – Interrompeu Toni – Estava tudo muito bom, até você ligar... – Como assim? – interrompeu ele novamente – Como você sabe, ele morre de medo de você. E quando percebeu que quem estava ligando era você, ele broxou! – E não deu para continuar? – perguntou Toni – Não teve jeito. Ele queria sair o mais rápido dali. Eu ainda tentei acalmá-lo, mas foi inútil... – Quer dizer que eu atrapalhei tudo com a minha ansiedade! – É... mais ou menos. Atrapalhou o principal. – E você gostou? – Da parte que deu para fazer, gostei muito.
Toni perdeu as palavras. Ficou em silencio por alguns instantes. Então disse: - Conte-me tudo!
Iza olhou para ele com o olhar um tanto decepcionado e disse: - Bem, tudo começou no La Violeteira, onde tomamos dois chopes. Enquanto bebíamos, ele virou-se para mim e disse “estou correndo o risco de levar uma bofetada sua, mas vou arriscar assim mesmo. Que tal sairmos daqui e irmos para um motel?” Eu disse que tudo bem! Então, terminamos o chope, entramos no carro e fomos para um motel ali perto.
Quando chegamos, ele pediu um apartamento de luxo e entramos apressados. E logo que entramos no quarto, ele me beijou por longo tempo. Então, tirei minha roupa devagar enquanto ele me admirava. E comentou como você tinha sorte de ter uma mulher como eu. Então, caminhei até o banheiro, tomei um demorado banho... – E ele? – perguntou Toni – Ele ficou sentado na cama me esperando. Depois, saí enrolada na toalha e deitei-me sobre a cama. Então, foi a vez dele ir para o banheiro.
Quando ele saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura, vi que o membro dele estava tão rijo, que levantava a toalha. Confesso que tive vontade de rir, mas me contive.
Então, veio por cima de mim e me beijou, enquanto tirava delicadamente a toalha na qual eu estava enrolada. E começou a beijar o meu corpo. Beijou o meu pescoço, meus seios, costas, beijou minha bunda, passou a língua entre as nádegas, beijou minhas pernas e pés e depois me virei e ele beijou avidamente a minha boceta. Introduziu a língua e os dedos, fez movimentos deliciosos, até me fazer gozar. E como gozei... gozei como louca. Então, ele abriu as minhas pernas e me penetrou com força. Aí... você ligou e acabou tudo. Mas tudo bem!
Toni estava tendo uma ereção que tentava disfarçar.
Iza percebeu e segurou o seu membro por cima da calça e disse: - Você acaba o serviço... vamos!
E foram para o quarto e se amaram como nunca.
Iza gritava e contorcia-se como louca. Toni atingiu orgasmos inimagináveis. De uma intensidade jamais experimentada. E depois de cerca de duas horas, adormeceram exaustos.
CAPÍTULO IX
Eu estou te dando todo o suporte financeiro de que precisas. –falou Venâncio – O que mais você quer?
Toni bateu forte na mesa e perguntou: - Por que idiota me tomas? Você está se metendo com o cara errado... – Eu não estou te reconhecendo Toni – falou Venâncio assustado –Estou cansado dê ser enrolado, Venâncio. – Espere, espere... vou te contar o que sei. – Desembucha! – falou Toni irritado – Eu soube por alto que a moça tinha um envolvimento com um tal Coronel Carvalho e mais alguns outros... – Sem falar num tal de Venâncio...- falou Toni irônico – O que você sabe? – Sei mais do que gostaria de saber. Descobri o seu envolvimento com ela... Sheila me contou tudo... – Eu sabia que isso poderia acontecer! – Então, que tal colocar-mos as cartas na mesa caro amigo. Se é que posso chamá-lo assim!
Venâncio coçou o queixo e caminhou pela sala, como se buscasse uma explicação nvincente. Deu a volta por trás de sua mesa, sentou-se e falou: - Eu tinha realmente um envolvimento com ela. Era uma mulher fascinante, meiga, inteligente e muito sensual. Eu não queria, mas me apaixonei por ela. Lamento muito que tenha morrido... – Como disse? – perguntou Toni – Eu disse que lamento muito que tenha desaparecido. Era uma garota incrível.
Toni ficou pensando no que havia ouvido e no quanto Venâncio havia se esforçado para consertar o que sem querer, havia dito. Ele achou melhor não insistir e fingir que as palavras de Venâncio haviam passado despercebidas. Enquanto Venâncio transpirava abundantemente.
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